quinta-feira, 11 de maio de 2023

Bruno Boghossian - Os coronéis do golpismo

Folha de S. Paulo

Investigação mira peixes grandes que discutiam golpe de Estado ao lado de Bolsonaro

Instalado dentro do Palácio do Planalto, um coronel da reserva se queixava das pedras no caminho para um golpe de Estado. Faltavam duas semanas para o fim do governo Jair Bolsonaro quando Elcio Franco, assessor da Casa Civil, enviou o lamento a um amigo do presidente, pelo WhatsApp. "Essa enrolação vai continuar acontecendo", disse.

Do outro lado da conversa estava o ex-major Ailton Barros. Ele falava em pressionar a cúpula do Exército, mobilizar 1.500 militares e convencer o Comando de Operações Especiais a prender o ministro Alexandre de Moraes. "Se preciso for, vai ser fora das quatro linhas", ameaçou.

A máquina bolsonarista quis pintar o golpismo pós-eleitoral como um sonho de militantes birutas ou um plano de soldados rasos do entorno do ex-presidente. Mas não é preciso ir longe para identificar os nomes e os gabinetes de majores, coronéis, generais e delegados que discutiam a ideia perto do centro do poder.

A investigação que descobriu o esquema de fraude do cartão de vacinação do ex-presidente cortou esse caminho. Além da conversa com Elcio Franco, a PF também encontrou mensagens de áudio enviadas por Ailton Barros ao coronel Mauro Cid, auxiliar direto de Bolsonaro.

Nas gravações disparadas para o gabinete presidencial e reveladas pela CNN Brasil, o ex-major falava na prisão de Moraes num domingo ("como ele faz com todo mundo") e num decreto para uma operação militar de Garantia da Lei e da Ordem.

Nunca houve dúvida de que o golpismo vicejava no lago em que nadavam os peixes grandes do bolsonarismo. O ministro da Justiça guardava em casa os preparativos de um estado de exceção, e generais do governo trabalhavam para melar as eleições.

No inquérito sobre o cartão de vacinação do ex-presidente, a PF afirmou ter identificado "tratativas para execução de um golpe de Estado" por "pessoas ainda não identificadas". Tudo indica que os agentes continuarão puxando esse fio. O celular de Bolsonaro, apreendido na investigação, deve ajudar.

 

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