Folha de S. Paulo
Afastamento de Eduardo Appio contribui para
autópsia de operação que nasceu e morreu como joguete
O
afastamento do juiz Eduardo Appio deu
à Lava
Jato mais um atestado de óbito para sua coleção. O conflito entre o
magistrado responsável pelos processos em Curitiba e os desembargadores do
TRF-4 contribui para a autópsia de uma operação que nasceu e morreu como
joguete de vontades políticas.
A Lava Jato já estava morta quando Appio assumiu a função, em fevereiro. Os excessos cometidos pela força-tarefa desde as etapas iniciais, os arranjos revelados pela Vaza Jato, as sentenças anuladas, os acertos do mundo político para frear investigações e a aliança com o bolsonarismo cavaram esse túmulo.
A longa marcha fúnebre começou na origem de
uma operação que se alimentava do voluntarismo e aceitava exibir uma
indisfarçável motivação política. No artigo em que lançou as bases da Lava
Jato, Sergio Moro descrevia a tarefa de corrigir a máquina do poder de fora
para dentro.
O raciocínio se refletiu nas ferramentas
usadas por investigadores, nos métodos para obter provas e na escolha dos alvos
da operação. Os abusos praticados a partir dessa doutrina deram fôlego à Lava
Jato, mas logo provocaram sua asfixia.
Num golpe do destino, a operação definhou
porque perdeu sustentação política. As infrações cometidas pela força-tarefa
fortaleceram uma coalizão interessada em reagir à Lava Jato, e a situação
piorou de vez quando seus protagonistas buscaram
abrigo partidário e eleitoral com o grupo que se beneficiou de suas ações.
Desde então, a sepultura da Lava Jato se
mantém como uma espécie de altar político frequentado tanto por guardiães como
por detratores.
Ao assumir os casos remanescentes, Appio
exibiu simpatias partidárias, se lançou numa cruzada para rever atos passados e
decidiu investigar integrantes da Lava Jato —o que seria legítimo, não
fossem as suspeitas de que ele buscou atalhos nesse caminho. A reação
partiu do consórcio que, por anos, se dispôs a preservar até as ilegalidades da
operação: antes mesmo de uma apuração conclusiva, o TRF-4 afastou o juiz.
Houve um reverterio.
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