sexta-feira, 12 de maio de 2023

Claudia Safatle - Falta de crescimento decorre de escolhas erradas

Valor Econômico

Ao atacar o Banco Central, presidente destrói o sistema de metas de inflação

O governo Lula não apresentou um plano de voo suficientemente claro para dirimir as dúvidas sobre o futuro. Ele fez uma clara opção pelo gasto através do Estado e por mecanismos de transferência de renda para as camadas mais pobres. Essa segunda parte é um imperativo e trata-se de uma escolha política. O problema é como fazer e, com isso, o presidente produziu custos que não precisava. Já era para a taxa de juros estar menor, o câmbio mais calmo e a bolsa de valores subindo. Isso não aconteceu porque ficou um conjunto de interrogações sobre como Lula pretende conduzir os quatro anos de governo.

Uma das principais exigências para o bom ambiente econômico é a visibilidade com relação ao futuro. Todos os dias o presidente ataca o Banco Central, por manter a taxa básica de juros em 13,75% ao ano, e diz que não ataca. É legítimo que os agentes econômicos pensem se vai ter ou não mais inflação no futuro. “Com essa simples atitude, ele destrói o sistema de metas para a inflação”, avalia o diretor de um grande banco.

“Ah, mas a taxa de juros está muito alta”, argumenta Lula. “Está alta mesmo e isso é consequência das nossas escolhas”, atesta a fonte.

Um exemplo de como as escolhas que fizemos, nos últimos 40 anos, foram erradas é que em 1980 as exportações do Brasil, da Coreia e da China eram de cerca de US$ 25 bilhões. Hoje elas são de pouco mais de US$ 500 bilhões na Coreia, de US$ 2,5 trilhões na China e de US$ 250 bilhões no Brasil. Aqui, estão concentradas em grãos e commodities metálicas, enquanto que a matriz das exportações da Coreia e da China é muito mais diversificada.

Quanto à taxa de juro, ao contrário do que revela o senso comum, não interessa aos bancos que ela seja elevada. Isto porque quanto mais alta estiver, maior será a inadimplência e menor a oferta de crédito, segundo o diretor. É preferível ganhar no volume do crédito a uma taxa de juros menor. “Ou você acha que é bom levar uma pancada como levamos da Lojas Americanas?” Nesse caso, porém, houve fraude. “Mas só quando os juros estão elevados é que se opta por fraudar”, assegura.

É essencial, para o governo, que o PIB cresça. E o PT entende que o crescimento se dará pela expansão da demanda, o que seria possível por aumento da renda ou do crédito. Este ano o crescimento da economia ficará em torno de 1%, o que é muito pouco para as necessidades sociais e políticas do país.

Além do que há alguns movimentos esquizofrênicos. Ao mesmo tempo que o governo quer aumentar o crédito, no fim do dia ele toma medidas que reduzem a oferta de crédito. Até de uma forma legítima, pois ele está preocupado com o nível de endividamento das famílias.

“Enquanto acreditarmos que a economia funciona na base de estímulo da demanda, não vamos crescer de forma sustentável” salienta o diretor. Quase 80% do que o governo arrecada volta para a economia sob a forma de transferências, sem contrapartida da produção. “ É como se estivéssemos tentando correr com um peso nas pernas”, reforça ele, que completa: “Ficamos presos na armadilha da nossa péssima distribuição de renda”.

Mas não temos convulsão social, dirá o governo. “É verdade. A sociedade construiu uma rede de apoio, seja com recursos privados, seja com transferências públicas”, acrescenta a fonte.

O auxílio de R$ 600 será de pouca ajuda para o crescimento. O problema é a produtividade associada a esse pagamento. “Sem aumento da produtividade não há crescimento de forma sustentável”, atesta ele.

De 1900 a 2022 vê-se, com clareza, dois períodos no país: de 1900 a 1980 e de 1980 até os dias atuais. Se a economia brasileira, com as escolhas que a sociedade fez, tivesse conseguido manter o crescimento per capita da primeira fase, teríamos um PIB per capita entre duas vezes e meia a três vezes maior. Para ter uma ideia da diferença que isso faz, a economia americana cresce a produtividade em cerca de 2% ao ano há uns 200 anos.

Haveria à disposição da sociedade brasileira um conjunto diferente de escolhas, desde que não se desconheça a enorme massa da população de baixa renda que tem o país. “Há deficiência na educação”, alguém vai comentar. A pergunta é por que não fomos capazes de mudar a educação.

Nos últimos 30 a 40 anos as despesas públicas cresceram sistematicamente e a capacidade de investimento do Estado praticamente chegou a zero. Aí entra o governo Lula e dispensa o dinheiro do setor privado para investir. “É uma coisa de louco!”, comenta o diretor. Essa foi a mensagem que Lula deixou quando resolveu que não faria mais privatizações e quer retomar a Eletrobras para o Estado. Aparentemente, ele acredita que na mãos do Estado a tarifa de energia seria menor, desconhecendo que foi por estar nas mãos do Estado que o investimento do setor elétrico foi menor do que o necessário para se cobrar uma tarifa menor.

Crescimento não é uma ferramenta. É consequência das escolhas feitas.

“Temos um canteiro de obras por fazer no Brasil que deve ser maior do que o da China”, diz um economista da área financeira.

Os Estados Unidos têm uma capacidade de armazenar 80% da produção de grãos enquanto que no Brasil esse percentual é de somente 5%, o que impede que o produtor, aqui, possa ter uma estratégia de maximizar seu ganho, cita ele, a título de exemplo de como é necessário investir mais no país, isto para não mencionar toda área de infraestrutura de rodovias, ferrovias, dentre outras.

É o investimento na ampliação da oferta de bens e serviços que vai sustentar taxas mais generosas de crescimento da economia.

O pior é que o investidor estrangeiro está aguardando maior clareza do governo para decidir se vem para o Brasil, segundo uma fonte que acompanha de perto essa movimentação.

 

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