sexta-feira, 5 de maio de 2023

Claudia Safatle - A política monetária está funcionando

Valor Econômico

“Não vejo aceleração do PIB no segundo trimestre”, diz Silvia Matos, coordenadora do Boletim Macro do Ibre

O fato de alguns bancos terem revisado para cima as suas expectativas de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) não estimulou o Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da Fundação Getulio Vargas a fazer o mesmo.

A economista Silvia Matos, coordenadora do Boletim Macro do Ibre, continua com a projeção de crescimento de 0,3% no ano e disse que não está se sentido confortável para rever os prognósticos. “Os serviços prestados às famílias vieram muito negativo em abril e não vejo aceleração do PIB no segundo trimestre”, disse ela. Ao contrário, excluindo a performance do setor de agropecuária e agronegócios, Silvia vê este como um período “levemente negativo”.

Dos três bancos - Bradesco, Santander e ABC Brasil - que anunciaram revisão recente do crescimento, o Bradesco é o mais otimista. A instituição contava com o PIB de 1,5% e agora espera que o país cresça, neste ano, 1,8%.

Compõe o cenário do banco uma taxa de inflação de 6,2% e uma queda da taxa básica de juros (Selic) dos atuais 13,75% ao ano para 12,25% ao ano. A taxa de câmbio, segundo o Bradesco, deve se situar em R$ 5 tendo, portanto, uma apreciação. Para o próximo ano, os prognósticos do banco são de uma taxa de inflação de 4% e de expansão do PIB de 1,5%.

Crescer quase 2% neste ano e 1,5% no ano que vem, para o banco, não comprometeria o processo de desinflação. “O Bradesco está apostando no alinhamento dos astros. Este é um cenário bastante otimista”, ponderou Silvia. ”Então, a inflação não será de 4% no próximo ano. A atividade tem que vir abaixo do PIB potencial (estimado em 1,5%),” reforça ela, apontando inconsistências.

No primeiro trimestre houve expansão de 1,1% do PIB. O Ibre esperava 1%. Se a agropecuária ficar zerada em relação ao ano passado, daria um PIB de 0,3%. “É positivo, mas é baixo!”

A inflação de alimentos e de commodities, em geral, está cedendo. A inflação de serviços ainda não. O pior foi a desancoragem das expectativas de inflação, que aconteceu no início do ano. Todos os agentes já contam com uma meta de 4%, e não mais de 3%. O problema é que, se ficar difícil chegar a 4%, nada garante que o governo não vai optar por 5% ou 6%.

O governo quer atalhos. O mercado precifica o início da queda taxa de juros para setembro. “Eu não aposto nisto. Acho que é mais para o início do ano que vem”, indica Silvia.

“Se acelerar a economia, que desinflação vamos ter?”, pergunta ela.

A economista do Ibre vê a situação do mercado de trabalho como mais uma pedra no caminho do Banco Central. O pós-pandemia reduziu a taxa de participação, com menos pessoas trabalhando. Houve aumento das aposentadorias dos mais velhos e transferência de renda. Há, no país, cerca de 3 milhões de pessoas não mais trabalhando em relação a 2019.

“Não há sinais de que a economia será melhor no segundo trimestre sobre o primeiro. Não consigo ver inflação desacelerando com a aceleração do PIB. E eu acredito que, se a inflação de serviços não ceder, o Banco Central não vai cortar os juros”, sintetiza.

Estamos no meio da batalha. O núcleo da inflação ainda está acima de 7% e não é hora de o governo interferir com políticas expansionistas.

A política monetária está funcionando. Se o governo interferir nesse processo, vamos colher um pouco mais de PIB neste ano mas teremos menos crescimento e mais inflação em 2024.

Na América Latina, praticamente todos os países estão desacelerando a economia para combater a inflação. O Chile está com menos 0,4%; a Argentina com menos 4%, Colômbia, 0,6%. America Latina e Caribe cresceram 3,7% no ano passado. Para este ano, a previsão é de 0,6% para este ano. É fato que tem a Argentina e a Venezuela, mas todas as economias da região estão em processo de desaceleração.

 

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