Folha de S. Paulo
Palacianos da política não se mexeram nas
derrotas do governo Lula
O governo mal experimentou o gosto da
fortuna e já voltou à trilha dos infortúnios. Quarta-feira (24) era dia de
faturar o caminhão de votos na aprovação
do novo marco fiscal na Câmara, mas o que se viu foi o embarque em
duas batalhas perdidas: perdeu para o centrão e adiante vai perder no embate
com a ministra Marina
Silva (Meio Ambiente).
O êxito no dito arcabouço não foi obra do
Palácio do Planalto, sabemos. Foi resultado da junção do realismo do
ministro Fernando
Haddad (Fazenda) com a esperteza do presidente da Casa, Arthur Lira.
Mesmo assim, o ambiente se prestava ao bater de bumbos. Seria um respiro, mas não deu tempo —o desacerto se impôs.
A proposta de reestruturação da
Esplanada andou para o
lado contrário do pretendido. Sem força para o enfrentamento, ao
governo restou
aceitar enfraquecer pastas caras ao PT e fortalecer outras
ocupadas por partidos afeiçoados à centro-direita.
Aceitou-se a passagem do trator sobre o
ministério do Meio Ambiente e se iniciou o que parece ser uma fritura de Marina
Silva dentro e fora das fronteiras do Planalto.
Não foi à revelia do chefe que o ministro
de Minas e Energia, Alexandre
Silveira, buscou diminuí-la dizendo que Lula é o "embaixador do
meio ambiente do Brasil, não precisamos de outro". Mensagem clara sobre
quem manda no jogo, a despeito do ganho pontual
de Marina no embate com a Petrobras.
Desnecessário e arriscado. Se a ministra
não tiver esquecido tudo e aprendido algo em sua desafortunada convivência com
o PT, cedo ou tarde pedirá para sair. É indemissível, mas não é imune a
humilhações.
Quanto à desfiguração da proposta original,
o governo alega que aceitou perder um pouco para não perder tudo com a extinção
de validade da medida provisória daqui a quatro dias. A MP foi editada em 1º de
janeiro.
Nesse meio-tempo, os palacianos da política
não se mexeram e, por essa e outras, são vistos como meros objetos de
decoração.
Deu ruim e a culpa nem é do governo.
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