O Estado de S. Paulo
Cassação de Dallagnol e prisão de Collor são sinal de alerta a torto e a direito
A Justiça deu uma no cravo e outra na
ferradura, mandando recados a torto e a direito, ou melhor, à esquerda e à
direita, quando o TSE cassou por unanimidade o mandato do deputado e
ex-procurador Deltan Dallagnol e, em seguida, a maioria do Supremo votou pela
prisão do ex-presidente, ex-governador e ex-senador Fernando Collor.
Independentemente do mérito e das discussões jurídicas sobre as decisões, sobretudo a que atingiu Dallagnol, o resultado político é claro: todo mundo está de cabelo em pé, desde os líderes da Lava Jato, como Dallagnol, até os seus alvos, como Collor.
Quando Dallagnol foi cassado, inclusive com
o voto do bolsonarista Nunes Marques, o foco desviou para Sérgio Moro, o juiz
da Lava Jato que trocou a magistratura pelo Ministério da Justiça do governo
Jair Bolsonaro, saiu batendo a porta e virou, simultaneamente, senador e alvo
da própria Justiça.
O foco, porém, abriu para todo lado, quem
comemorou a cassação de Dallagnol viu que o pau que bate em Chico também bate
em Francisco e uma dúvida voltou a assombrar deputados, senadores,
governadores, prefeitos e, quem sabe, um ministro ou outro: qual será o
próximo?
Até aqui, assistiu-se à luz do dia à
cambalhota que transformou a Lava Jato em pó, seus heróis em réus, os alvos em
vítimas e tenta reverter até os acordos de leniência, pelos quais empresas
envolvidas em corrupção devolveram grandes somas aos cofres públicos.
A cassação de Dallagnol é parte desse
processo, ou desse revisionismo, e difundiu sensação de alívio e vingança nos
condenados e em quem esteve na fila, com a impressão de que o pior tinha
passado, mas estava só começando para a turma de Moro e do ex-procurador. A
pena de 30 anos de Collor, porém, soou como sinal de alerta de que nenhum dos
lados está a salvo.
Após o impeachment, há três décadas, por
corrupção, Collor aguardou os anos de inelegibilidade, voltou como senador e
ele e Lula, seu adversário de 1989, deixaram velhas pendengas para lá. No
petrolão, Collor ganhou acesso político a uma subsidiária da Petrobras,
envolveuse num desvio de R$ 22 milhões (sem correção) e hoje está com um pé na
cadeia. Quantos, como ele, acharam que estava tudo esquecido e agora descobrem
que nem tanto?
Não está previsto, mas não é impossível que, se Moro entrou na mira, também podem voltar a ela petistas, tucanos, emedebistas, bolsonaristas e a turma do Centrão. PP, PL e PTB, por exemplo, têm tudo a ver com petrolão. E as CPIs do Golpe, do MST, das Americanas e do Futebol estão começando, misturando política, Justiça e polícia. Bem animado.
Collor também é de direita como Deltan.
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