O Estado de S. Paulo
Quem participa da vingança do sistema contra a Lava Jato ganha créditos com o presidente Lula
O desejo confesso de Lula de se vingar de
Deltan Dallagnol e o voto do relator Benedito Gonçalves pela cassação de seu
mandato de deputado federal, contornando a lei que não prevê inelegibilidade em
caso de pedido de exoneração do Ministério Público sem processo administrativo
disciplinar aberto, formam uma coincidência e tanto.
Lula indicou Benedito Gonçalves para o Superior Tribunal de Justiça em 1.º de agosto de 2008 e foi representado na cerimônia de posse, em 17 de setembro, pelo então advogado-geral da União, Dias Toffoli. Um ano depois, Lula indicou Toffoli para a vaga do Supremo Tribunal Federal deixada pela morte de seu também escolhido Menezes Direito. O petista já havia indicado Joaquim Barbosa, Cezar Peluso, Ayres Britto e Ricardo Lewandowski, hoje aposentados; além de Cármen Lúcia.
Eleita em 2010, Dilma Rousseff indicou Luiz
Fux e Rosa Weber em 2011; Teori Zavascki em 2012 (ele morreu em acidente de
avião em 2017, quando então Michel Temer escolheu Alexandre de Moraes); e Luís
Roberto Barroso em 2013. Em 27 de outubro de 2014, dia seguinte da reeleição da
petista, Benedito Gonçalves enviou a seguinte mensagem a Léo Pinheiro,
empreiteiro da OAS e amigo de Lula:
“Meu amigo, parabéns, o ano 2015 começou
ontem. Agora preciso da sua ajuda valiosa para meu projeto.”
Naquele tempo, Benedito já tinha o
“projeto” de ser indicado ao STF no governo do PT, como entenderam os agentes
da Polícia Federal que investigavam Pinheiro no âmbito da Operação Lava Jato,
coordenada por Deltan.
Antes de ser ele próprio alvo de delação do
empreiteiro e de procedimento no Conselho Nacional de Justiça, o ministro foi
cotado em 2015 para a vaga de Barbosa, mas Dilma acabou escolhendo Luiz Edson
Fachin, que já havia disputado a anterior com Barroso e fora portavoz de um
manifesto de juristas a favor da eleição da petista. Teria Benedito entendido
que manter o nome cotado em sucessivas disputas e tomar atitudes que agradam ao
presidente de turno aumenta as chances de vitória?
A derrota de Jair Bolsonaro estragou o
projeto de Augusto Aras, João Otávio de Noronha e outras autoridades, que
contribuíram para a blindagem da família do ex-presidente, de chegar ao
Supremo, mas reacendeu a esperança dos antigos indicados por Lula. Ninguém
acredita que ele vá abrir mão de escolher seu advogado Cristiano Zanin para a
vaga de Lewandowski, mas, para a de Rosa Weber, os créditos de quem faz
contorcionismo para se “vingar dessa gente”, e ainda atrai os coleguinhas, já
estão contando.
Aqui se faz,aqui se paga,nem que seja na próxima encarnação,ou no plano espiritual,o umbral nasceu pra todos.
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