O Estado de S. Paulo
País precisa encarar a necessidade de formar jovens para as revoluções tecnológica e ambiental
“O futuro será verde e digital.” Ursula von
der Leyen, presidente da Comissão Europeia, resumiu numa frase uma das poucas
certezas de nosso tempo. Não se sabe que mundo resultará da disputa por
hegemonia entre Estados Unidos e China, ou da guerra entre Rússia e Ucrânia.
Sabe-se apenas que a revolução tecnológica é incontornável – e que a
sobrevivência da vida no planeta depende da transição para uma economia de
baixo carbono.
De Collor a Temer, passando por governos tucanos e petistas, o País evoluiu de pária ambiental a interlocutor relevante nas discussões sobre o clima. Voltou a ser pária na era Bolsonaro, mas o Executivo e o Congresso que os brasileiros acabam de escolher começam, aos poucos, a recolocar o Brasil no principal debate do mundo atual.
Qual o papel da educação nesse cenário?
“Uma transição ecológica inclusiva exige repensar o papel dos jovens e da
tecnologia numa economia de baixo carbono”, diz Ricardo Henriques, diretor do
Instituto Unibanco e um dos maiores especialistas brasileiros na área educacional.
“O Brasil avançou muito da Constituinte para cá, mas avançou em velocidade
ainda baixa. Precisamos de novos trilhos e de um trem de alta velocidade.”
Henriques é o entrevistado no minipodcast da semana.
Quais seriam esses novos trilhos? “O
letramento no nosso idioma, numa língua estrangeira e em matemática segue sendo
fundamental para uma educação inclusiva”, diz Henriques. “Defendo, no entanto,
que precisamos também de um letramento digital e um letramento ambiental
climático. Esses cinco eixos devem perpassar o processo educacional, desde a
primeira infância até a formação superior.”
Relatório do Banco Mundial mostrou que a
Floresta Amazônica, em pé, vale R$ 1,5 trilhão por ano, como mostrou Beatriz
Bulla em reportagem nesta semana no Estadão. Abrigar a maior parte da principal
mata tropical do planeta abre ao Brasil a oportunidade de se tornar um
protagonista na discussão ambiental. Recursos humanos serão fundamentais para
que esta ambição se concretize.
A demanda por especialistas em ambiente e energias
renováveis irá se multiplicar. A dúvida é se, num futuro próximo, estes postos
serão ocupados por brasileiros ou se precisaremos importar mão de obra. Vários
países atendem melhor do que nós às demandas contemporâneas na área da
educação.
Se quiser ter um papel relevante no mundo,
o Brasil precisa encarar, a sério, a necessidade de formar seus jovens para as
revoluções tecnológica e ambiental. Os cinco eixos propostos por Henriques
podem ser o ponto de partida neste debate tão importante.
*Escritor, professor da Faap e doutorando em Ciência Política na Universidade de Lisboa
Falou e disse.
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