O Estado de S. Paulo
Nos próximos anos, a indústria será o fio condutor de uma política econômica voltada para a geração de renda e de empregos mais intensivos em conhecimento e de uma política social que investe nas famílias
A indústria será o fio condutor de uma
política econômica voltada para geração de renda e de empregos mais intensivos
em conhecimento.
Nos últimos anos a indústria brasileira tem
enfrentado dificuldades de crescimento, com uma participação cada vez menor no
PIB. A desindustrialização precisa ser interrompida, para que geremos mais
empregos de qualidade.
A exportação de matérias-primas é
importante, mas, em que pese o crescente conteúdo tecnológico associado, é mais
vulnerável aos ciclos de preços internacionais. Uma economia baseada no
conhecimento depende de recuperarmos nosso setor industrial, em benefício
também de nossa soberania em setores como saúde, comunicações, defesa e
energia. No entanto, estamos perdendo a corrida da sofisticação produtiva.
Décadas atrás, éramos o 25.º país em complexidade de nossa economia. Hoje, estamos ao redor da 50.ª posição. Países como a China fizeram o caminho inverso: ela se tornou competitiva em setores de ponta, transformou-se numa economia que já é mais complexa que a da Dinamarca e, neste percurso, levantou centenas de milhões de trabalhadores da pobreza. No Brasil, a renda do trabalho teve uma queda de 2% em 2022, atingindo o menor valor em dez anos.
A neoindustrialização brasileira requer
iniciativa, planejamento e gestão. Nossa diversificação precisa ser criteriosa,
a partir dos setores em que já temos know-how, na direção daqueles que podem
gerar maior valor adicionado e nos quais temos capacidade de ser competitivos.
Precisamos de uma política industrial
inteligente, para o novo momento da globalização – em que mesmo países mais
liberais investem em conteúdo nacional: seja para a construção de cadeias
produtivas mais resilientes a choques, como o que provocou escassez de insumos
na pandemia; seja para dar conta do imperativo da mudança climática, a corrida
espacial do nosso tempo.
Fazer política industrial não é questão de
“sim ou não”, mas de “como”. Nesta tarefa, será fundamental a escuta da sociedade
por meio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Industrial (CNDI), reativado.
Deste fórum sairão as missões a serem dadas à indústria, que ajudarão o País em
carências como na saúde e na defesa. Estas se somarão a outras medidas, como o
novo Programa de Apoio ao Desenvolvimento Tecnológico da Indústria de
Semicondutores (Padis) e o programa de enfrentamento ao custo Brasil. Para
estes fins, estamos resgatando ainda a política comercial, que complementa a
política industrial.
Enquanto esta trata da produção, aquela
promove sua vazão.
Oportunidades comerciais se abrem para uma
potência verde como nosso país. A redução do uso de combustíveis fósseis na
indústria automotiva se dará com o carro elétrico, mas também com
biocombustíveis. Podemos exportar carros ou motores flex para mercados aptos a
usar etanol na Ásia, na África e na América Latina.
Precisamos reanimar o comércio dentro do
nosso continente e com a Costa Atlântica da África, regiões onde num passado
recente exportamos mais produtos industrializados; e explorar nichos abertos
pelo crescimento na Ásia de países como Índia, Indonésia e Vietnã, assim como
numa China que hoje não só exporta muito, mas estimula um florescente mercado
interno com poder aquisitivo cada vez maior – possível destino para nossos
cosméticos e alimentos.
Há, ainda, oportunidades com o retorno do
Brasil ao mapa de investimentos internacionais, aproveitando vantagens em
energias renováveis. Com quase 90% da nossa matriz elétrica limpa e expansão da
energia eólica e solar, devemos focar em atrair investimentos verdes.
A força do nosso agronegócio, por sua vez,
permite criar uma cadeia de suprimentos que reduza nossa dependência externa
com o Plano Nacional de Fertilizantes, estimular a agroindústria e financiar as
exportações de maquinário agrícola e de novas tecnologias que estão surgindo no
Brasil para atender o campo.
Para a neoindustrialização, necessitamos
também de políticas horizontais – como uma tributação eficiente e justa. É a
reforma tributária, para destravar, desburocratizar e simplificar processos que
prejudicam a indústria. A reforma, desenhada para reduzir a cumulatividade e os
conflitos, estimulará o investimento privado, elevará as exportações nacionais,
combaterá as distorções alocativas e melhorará o ambiente de negócios,
reduzindo o custo Brasil.
Temos de facilitar o acesso ao capital,
reduzindo seu custo, para que os empreendedores possam criar e expandir os seus
negócios. O governo está fazendo sua parte com o novo arcabouço fiscal,
reforçando a estabilidade e a previsibilidade em nossa economia.
Por fim, buscamos investir nas pessoas,
afinal a indústria só prosperará com capital humano bem formado. Por isso,
celebramos os investimentos no novo Bolsa Família, que passa a privilegiar mais
as crianças; na educação básica, que ruma para o ensino integral; e na
valorização do salário mínimo.
A indústria será, nos próximos anos, o fio
condutor de uma política econômica voltada para a geração de renda e de
empregos mais intensivos em conhecimento, inclusive no setor de serviços. E de
uma política social que investe nas famílias – trabalhadores de hoje e de
amanhã. O Brasil de novo se volta para um futuro de inclusão social e
crescimento econômico com empregos de qualidade. •
Tomara!
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