O Globo
O Supremo Tribunal Federal reservou a
sessão de 3 de agosto para dar posse a Cristiano Zanin. Pelas regras atuais, o
novo ministro poderá exercer o cargo por mais de 27 anos. Ficará 9.966 dias na
Corte — tempo o bastante para acompanhar sete mandatos presidenciais.
A indicação era tida como certa desde a
vitória de Lula. O presidente chegou a dizer, num debate, que seria um
retrocesso nomear um amigo ou companheiro para o Supremo. A frase não o impediu
de recompensar o advogado que o ajudou a sair da cadeia.
Cabia ao Senado examinar se a escolha, além de contradizer o discurso de campanha, violou o princípio da impessoalidade. Mas a Casa preferiu receber o futuro ministro com os elogios e rapapés de praxe.
Os senadores não rejeitam um indicado ao
Supremo desde 1894. Ainda assim, era de se esperar um pouco de rigor com Zanin.
O que se viu foi uma sabatina morna, com poucas perguntas duras e muitas
respostas evasivas.
O futuro ministro se esquivou de opinar
sobre assuntos polêmicos. Nas poucas vezes em que ameaçou descer do muro,
tentou fazer média com a oposição de direita. Ao ser questionado sobre o
aborto, disse defender o direito à vida. Quando um senador criticou decisões
favoráveis ao meio ambiente, pregou a “conciliação” e o “bom senso”.
Em outro momento, Zanin fez questão de
dizer que a economia de sua cidade natal, Piracicaba, “gira em torno do
agronegócio”. E repetiu três vezes que é casado há 20 anos, como se buscasse o
aplauso dos ditos defensores da família tradicional.
O senador Sergio Moro prometeu perguntas
“bastante técnicas”, mas tropeçou nas
fake news ao indagar se o advogado havia sido padrinho de
casamento de Lula e Janja. “Vi na internet. Não sei se é procedente ou não essa
informação”, disse. Se o ex-juiz tivesse consultado o noticiário, saberia que o
enlace não teve padrinhos.
Seus colegas na bancada bolsonarista
protagonizaram vexames de outra ordem. Jorge Seif afirmou que os indígenas “não
produzem nada” e “querem caminhonete”. Magno Malta disse que as demarcações de
terra transformarão o Brasil num “paisinho do tamanho de Sergipe”.
Diante de inquisidores desse naipe, Zanin
não teve dificuldade para atravessar mais de sete horas de sabatina. Quem
esperava saber o que ele pensa continuou sem saber — mas agora terá quase dez
mil dias para descobrir.
Gi para os íntimos
Numa semana de vitórias no Congresso, Lula
aproveitou para fazer mais um giro na Europa. A viagem teve três pontos altos:
a foto com o papa Francisco, a recepção de popstar em frente à Torre Eiffel e a
reunião com a primeira-ministra da Itália.
A premiê pertence a um partido de
ultradireita e festejou a eleição de Jair Bolsonaro em 2018. Ao encontrá-la, o
presidente produziu um antídoto contra as críticas de que sua política externa
estaria subordinada a afinidades ideológicas.
Lula só precisa aprender o nome da
primeira-ministra. Em entrevista ao fim da viagem, o presidente a chamou de
“Giordana” e “Giovana”. O nome dela é Giorgia Meloni.
Só rindo.
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