domingo, 25 de junho de 2023

Bernardo Mello Franco ´Dez mil dias no Supremo

O Globo

O Supremo Tribunal Federal reservou a sessão de 3 de agosto para dar posse a Cristiano Zanin. Pelas regras atuais, o novo ministro poderá exercer o cargo por mais de 27 anos. Ficará 9.966 dias na Corte — tempo o bastante para acompanhar sete mandatos presidenciais.

A indicação era tida como certa desde a vitória de Lula. O presidente chegou a dizer, num debate, que seria um retrocesso nomear um amigo ou companheiro para o Supremo. A frase não o impediu de recompensar o advogado que o ajudou a sair da cadeia.

Cabia ao Senado examinar se a escolha, além de contradizer o discurso de campanha, violou o princípio da impessoalidade. Mas a Casa preferiu receber o futuro ministro com os elogios e rapapés de praxe.

Os senadores não rejeitam um indicado ao Supremo desde 1894. Ainda assim, era de se esperar um pouco de rigor com Zanin. O que se viu foi uma sabatina morna, com poucas perguntas duras e muitas respostas evasivas.

O futuro ministro se esquivou de opinar sobre assuntos polêmicos. Nas poucas vezes em que ameaçou descer do muro, tentou fazer média com a oposição de direita. Ao ser questionado sobre o aborto, disse defender o direito à vida. Quando um senador criticou decisões favoráveis ao meio ambiente, pregou a “conciliação” e o “bom senso”.

Em outro momento, Zanin fez questão de dizer que a economia de sua cidade natal, Piracicaba, “gira em torno do agronegócio”. E repetiu três vezes que é casado há 20 anos, como se buscasse o aplauso dos ditos defensores da família tradicional.

O senador Sergio Moro prometeu perguntas “bastante técnicas”, mas tropeçou nas fake news ao indagar se o advogado havia sido padrinho de casamento de Lula e Janja. “Vi na internet. Não sei se é procedente ou não essa informação”, disse. Se o ex-juiz tivesse consultado o noticiário, saberia que o enlace não teve padrinhos.

Seus colegas na bancada bolsonarista protagonizaram vexames de outra ordem. Jorge Seif afirmou que os indígenas “não produzem nada” e “querem caminhonete”. Magno Malta disse que as demarcações de terra transformarão o Brasil num “paisinho do tamanho de Sergipe”.

Diante de inquisidores desse naipe, Zanin não teve dificuldade para atravessar mais de sete horas de sabatina. Quem esperava saber o que ele pensa continuou sem saber — mas agora terá quase dez mil dias para descobrir.

Gi para os íntimos

Numa semana de vitórias no Congresso, Lula aproveitou para fazer mais um giro na Europa. A viagem teve três pontos altos: a foto com o papa Francisco, a recepção de popstar em frente à Torre Eiffel e a reunião com a primeira-ministra da Itália.

A premiê pertence a um partido de ultradireita e festejou a eleição de Jair Bolsonaro em 2018. Ao encontrá-la, o presidente produziu um antídoto contra as críticas de que sua política externa estaria subordinada a afinidades ideológicas.

Lula só precisa aprender o nome da primeira-ministra. Em entrevista ao fim da viagem, o presidente a chamou de “Giordana” e “Giovana”. O nome dela é Giorgia Meloni.

 

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