O Globo
Covardia de Jean Lawand Junior combina com
novo tom de Bolsonaro diante da Justiça
O coronel Jean Lawand Junior é um
bolsonarista típico. Fala grosso na internet, mas afina na hora de assumir seus
atos. Depois da derrota do capitão, o oficial se esgoelou no WhatsApp em defesa
do golpe. Ontem ele tentou se fazer de inocente na CPI.
O militar passou ao menos um mês
incentivando uma quartelada. Em mensagens enviadas ao tenente-coronel Mauro
Cid, pregou uma ação militar para subverter o resultado das urnas. Queria que
Jair Bolsonaro desse “a ordem” para botar os tanques na rua.
“Ele tem que dar a ordem, irmão. Não tem como não ser cumprida”, suplicou. Em outro diálogo, o coronel disse que o presidente precisava escolher entre a ruptura institucional e a cadeia. “Ele não pode recuar agora. Ele não tem nada a perder. Ele vai ser preso”, insistiu.
A conspiração está documentada em relatório
enviado pela Polícia Federal ao Supremo. Mesmo assim, Lawand resolveu contar
uma história da carochinha à CPI. Sem corar, ele alegou que “a ordem” não
passaria de um chamado à pacificação nacional. “Minha intenção não era o golpe.
Era realmente apaziguar o país”, disse.
A conversa não satisfez nem a tropa
oposicionista. “Mais inteligente seria ter usado o direito de permanecer em
silêncio”, lamentou o senador Marcos Rogério. “Eu também não estou convencido
das suas explicações, com todo o respeito”, escusou-se o ex-juiz Sergio Moro.
A relatora Eliziane Gama afirmou que o
depoente tratou os parlamentares como crianças. Apesar do desrespeito à CPI,
ninguém ousou dar voz de prisão ao oficial. O coronel foi salvo pela farda —
mesmo tendo ido ao Congresso em trajes civis.
A covardia de Lawand combina com o novo tom
de Bolsonaro. Ameaçado de perder os direitos políticos, o ex-presidente voltou
a se fingir de democrata. Em entrevista à Folha de S.Paulo, ele jurou que nunca
quis usar a força para se perpetuar no poder. E disse que o 8 de janeiro teria
sido coisa de “senhorinhas com a Bíblia embaixo do braço” e “senhorzinhos com a
bandeira do Brasil”.
O discurso do capitão é tão mentiroso
quanto o do coronel. Mas o TSE não deve amarelar como a CPI.
Concordo.
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