Folha de S. Paulo
Ninguém imagina que o centrão conservador
vestirá camisa vermelha se receber o Ministério da Saúde
Políticos que faziam negócios com Jair
Bolsonaro andam dizendo que o problema de Lula com o
Congresso passa pela ideologia dos deputados e senadores. Pouco depois de
entrar em conflito com o governo, Arthur Lira
(PP) sentenciou que o Planalto precisa aprender a "conviver com
quem pensa diferente".
Semanas mais tarde, dois presidentes de partidos seguiram a mesma linha. Marcos Pereira (Republicanos) afirmou que Lula tem que se acostumar com o fato de que "o Congresso é de centro-direita", e Ciro Nogueira (PP) declarou que a maioria dos parlamentares "não tem identificação nenhuma com o governo".
A matemática empresta coerência à avaliação
do trio. O eleitor mandou para a Câmara 189 deputados do centrão de direita
(PL, PP e Republicanos) e outro bom punhado de parlamentares conservadores em
outras siglas (MDB, PSD e União Brasil).
Lula realmente encara um
Congresso que restringe a ação de seu governo na esquerda. O presidente
sabe que terá menos sucesso na aprovação de pautas com essa coloração do que em
itens com tintas políticas mais suaves.
Nessa segunda categoria, o Planalto já
percebeu que consegue garantir fidelidade alta dentro dos partidos de sua base
e ainda beliscar dissidentes em outras legendas —alguns que concordam com a
agenda petista e outros que apoiam o governo por sobrevivência (como deputados
e senadores do Nordeste).
Mas a análise dos cardeais do centrão faz
água diante da cobrança estridente por verba para parlamentares "de
centro-direita" ou pela entrega
de cargos para o grupo que "não tem identificação nenhuma com o
governo". Ninguém imagina que essa turma passaria a ser de esquerda de uma
hora para outra se
tivesse o controle do Ministério da Saúde.
O presidente do Republicanos já explicou
que um deputado de direita terá mais "boa vontade" com Lula se
receber benefícios. "Se ele já tem uma pauta contrária e ele não está
sendo atendido, a tendência de ele ser mais reativo é natural também."
Se a pauta for boa para o País todos deviam votar com o presidente.
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