sexta-feira, 2 de junho de 2023

Celso Ming - Agro forte tem efeito econômico e político

O Estado de S. Paulo

O avanço do PIB no primeiro trimestre, de 1,9% sobre o trimestre anterior, foi surpresa geral. Mais surpreendente, ainda, foi o robusto desempenho da agropecuária, de nada menos de 21,6% no período – melhor resultado desde o quarto trimestre de 1996. Este foi alavancado não só pelo forte crescimento da produção física de grãos, como, também, pelo aumento dos preços das commodities agrícolas ao longo do primeiro trimestre.

A indústria teve novo desempenho negativo, de -0,1%, e maior ainda seria esse tombo se o agro não tivesse acionado o segmento da agroindústria. Parte do desempenho positivo dos serviços (especialmente transportes e armazenagem), de 0,6% no período, se deveu também ao fator agro.

Por aí já podemos ter em mente duas consequências importantes. A primeira delas é o aumento da força econômica relativa do interior. Os analistas mantêm seus traseiros afundados em sofás nas grandes cidades e demoram para entender o impacto do agronegócio a partir do interior do País. A outra consequência é política. Quanto melhor e maior for o desempenho do agronegócio, maior tenderá ser sua influência política, tanto nas suas áreas de origem quanto em Brasília. E é por isso que o presidente Lula precisa mudar sua relação com o setor.

A melhora da atividade econômica já vinha sendo em parte notada pelo desemprego mais baixo. Os últimos números do IBGE indicam que apenas 8,5% da força de trabalho do País não vinha encontrando trabalho no trimestre terminado em abril.

Esses novos números das Contas Nacionais dão certa razão ao ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que já vinha projetando um crescimento do PIB para este ano da ordem de 2%. E é para esse nível de grandeza que as novas estimativas dos analistas e consultores deverão apontar. Os últimos levantamentos do Boletim Focus, do Banco Central, mostram projeções de 1,26% para o PIB deste ano.

Fica demonstrado também o quanto vêm sendo exageradas as críticas do governo de que a política restritiva de juros do Banco Central vem travando o crescimento econômico a partir do encarecimento do crédito.

Mas ninguém espere a mesma exuberância mostrada neste primeiro trimestre, por duas razões. Primeira, a economia mundial tomou a direção de uma recessão, que ninguém sabe até onde vai, porque os grandes bancos centrais parecem inseguros sobre como calibrar sua política de juros. E, segunda razão, os preços das commodities já estão deslizando no mercado internacional há um mês e esse movimento deve prejudicar o faturamento (e a renda) dos principais produtos de exportação, especialmente, petróleo e grãos.

 

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