Folha de S. Paulo
Espaço de interlocução alternativo a Lira
pode ser caminho para Lula na Câmara
O presidente da República entrou em campo e
supostamente deu uma arrumada no jogo. Resta saber se daqui para frente será
realmente tudo diferente do que foi a difícil
convivência com o Poder Legislativo nestes meses iniciais de governo.
Lula fez o certo? Depende do ponto de vista. Se o posto de observação for o Palácio do Planalto, no momento é o que tinha para ser feito: não ceder aos apelos por uma reforma ministerial ampla, ajustar a equipe aqui e ali sem mexer em cargos mais caros ao presidente, manter azeitado o fluxo de liberação de emendas e calibrar as pautas para reduzir confrontos inúteis no Parlamento.
É diferente quando o panorama é analisado
por pessoas com experiência acumulada de outros carnavais. Gente que participou
de muitos governos, do PT, do PSDB e do MDB do ex-presidente Michel Temer,
acha que Lula não tem ido por um bom caminho.
De acordo com essa percepção, o chefe do
governo não vai retomar o mando da partida enquanto não criar dentro do
Congresso um espaço de interlocução alternativo ao presidente da Câmara, Arthur Lira,
a quem teria se entregado de maneira completa e apressada, assombrado que
estava pelo fantasma de Eduardo Cunha.
A prudência, no entanto, talvez tenha sido
excessiva e já seria hora de alterar o rumo da prosa. O reforço do diálogo com
o presidente do Senado, Rodrigo
Pacheco, não bastaria, pois o xis da questão está na Câmara, onde o
deputado alagoano reina absoluto.
E ali, na visão de observadores experientes, é que Lula deveria atuar. Não no
conflito aberto, mas na busca de alguém a quem pudesse dar as ferramentas
necessárias para operar internamente em nome do governo.
Desse modo, iniciar a construção de uma
candidatura "amigável", capaz de enfrentar o nome escolhido por
Arthur Lira à sua sucessão e, assim, evitar que se eternize o clima de tensão.
Concordo.
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