Valor Econômico
Celso Sabino tem se mantido discreto para
não melindrar a atual titular da pasta
Mais uma leva de dados sobre o desempenho
do setor de turismo era divulgada no Rio de Janeiro pelo Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatísticas no último dia 15 de junho, quando começou a
circular na capital federal, a quilômetros de distância, a informação de que o
deputado Celso Sabino integraria a comitiva do presidente Luiz Inácio Lula da
Silva ao Pará, seu Estado natal. Não era uma viagem a passeio.
Decidido a aumentar sua base de apoio no Congresso, Lula colocava em prática os princípios da boa hospitalidade e oferecia ao União Brasil da Câmara o Ministério do Turismo. Sabino acabara de ganhar uma passagem, com escala, para a Esplanada dos Ministérios: teria apenas que fazer uma conexão de alguns dias, para que a exoneração da ministra Daniela Carneiro ocorresse sem turbulência.
Lula, por sua vez, tenta colocar em sua
excursão não só a bancada do União Brasil da Câmara, que tem 59 integrantes em
exercício, mas o próprio Centrão. “Sabino não é só do União Brasil, ele
transcende o União. Ele é Centrão”, comenta uma fonte. As próximas votações na
Câmara mostrarão se o pacote é completo.
Naquele dia, contudo, as preocupações do
setor produtivo nem constavam do roteiro que tinha Brasília como ponto de
partida, ainda que a situação do segmento demande atenção.
Com o resultado de abril, o turismo opera
apenas 0,7% acima do patamar pré-pandemia, de fevereiro de 2020. Pelo terceiro
mês consecutivo, informava o IBGE, o indicador de atividades turísticas
registrava um novo recuo. A variação negativa em abril, frente a março, fora de
0,1%. Taxa idêntica havia sido observada em março em relação ao mês anterior,
enquanto a queda verificada em fevereiro ante janeiro apontava 1,4%.
Na comparação com abril de 2022, uma boa
notícia. O volume de atividades turísticas crescera 1,4%, mantendo uma
sequência de 25 taxas positivas. O movimento fora impulsionado pelo aumento na
receita de empresas que atuam nos ramos de locação de automóveis, atividades
teatrais, musicais e de espetáculos em geral, além de agências de viagens,
serviços de bufê e transporte rodoviário coletivo de passageiros.
Mas nada disso era comentado em Brasília. O
tema que dominava as conversas de bastidores, no Executivo e no Congresso,
descolava-se das preocupações do setor produtivo e concentrava-se na seara
política. E nos possíveis instrumentos que o Ministério do Turismo oferece para
quem o comanda.
Segundo dados oficiais, o governo Lula 3
tomou posse com uma previsão orçamentária total para o Ministério do Turismo
neste ano de R$ 691,9 milhões, incluindo turismo e cultura. Desse montante, R$
372,9 milhões seriam recursos destinados às emendas do relator-geral do Orçamento,
mecanismo muito criticado num passado nada remoto pela falta de transparência.
Nos R$ 319 milhões restantes, estavam incluídos os gastos com gestão, pessoal
e, finalmente, programas de turismo e cultura.
Com a separação das duas pastas, contudo,
já estava na conta do governo a necessidade de fazer uma reestruturação
orçamentária e de governança. Em recente audiência na Câmara dos Deputados
durante sua turnê de despedida, a atual ministra do Turismo contou que vinha
fazendo um esforço de articulação com integrantes da Junta de Execução
Orçamentária - os ministros da Fazenda, Planejamento e Casa Civil - com o
objetivo de elevar as verbas da pasta. “O orçamento hoje, no ministério, está
em R$ 19 milhões para as áreas finalísticas, tais como obras, apoio a eventos,
sinalização turística, promoção”, lamentou.
A articulação com parlamentares,
governadores e prefeitos também é grande. Dessa forma, o Ministério do Turismo
tende a tornar-se um “transfer” relevante para que os congressistas consigam
levar, por meio de emendas ao Orçamento, recursos para suas bases eleitorais. O
desafio do novo ministro será direcionar esses recursos para iniciativas que
potencializem o impacto econômico e social dos investimentos, com geração de
negócios, empregos, renda e divisas.
Sabino tem sido discreto e sequer adiantou
a integrantes do Executivo o que pretende fazer, para não melindrar a atual
ministra. Espera-se uma gestão que apresente o turismo como atividade sistêmica
e transversal. Isso quer dizer que a pasta juntará esforços para levar
infraestrutura, melhores habitações e internet para localidades turísticas, por
exemplo.
Na relação com outros ministérios,
vislumbram-se iniciativas conjuntas para alavancar a circulação em sítios
culturais, históricos e o ecoturismo. O futuro ministro transita entre
parlamentares de diversos partidos e presidiu a Comissão Mista de Orçamento.
Uma prioridade deve ser a capacitação de
mão de obra. Segundo dados do governo, um em cada dez empregos no país foram
gerados pelo turismo nos primeiros meses de 2023.
Em outra frente, a pasta irá buscar formas
de facilitar investimentos privados. É o que se espera ver tão logo seja virada
a página da troca de comando no ministério, até porque os indicadores
demonstram como ainda é preciso impulsionar as atividades do setor.
A palavra de ordem no governo é dar as
boas-vindas aos novos aliados, seguindo a cartilha que pressupõe uma recepção
com cortesia, um bom acolhimento, alimentação e entretenimento a quem chega.
Isso tudo sem aborrecer Daniela Carneiro durante o “check-out”.
Então tá!
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