Correio Braziliense
O país vizinho era o nosso terceiro parceiro
comercial, agora é o quarto. Mesmo assim, continua sendo o parceiro mais
importante para a nossa indústria de automóveis e de eletrodomésticos.
A rivalidade entre Brasil e Argentina perdeu o sentido desde a Guerra das Malvinas, quando os Estados Unidos apoiaram o Reino Unido. Resultado: os ingleses foram beneficiados pelo apoio logístico norte-americano, enquanto os argentinos não obtiveram a assistência de que necessitavam da potência que consideravam seu “aliado principal”. Ao contrário do que imaginava o então presidente da Argentina, o general Leopoldo Galtieri, a primeira-ministra britânica, Margaret Thatcher, não quis saber de negociação e resolveu o assunto pela força, exibindo o poder naval e a hegemonia militar do Reino Unido no Atlântico Sul.
Foi
um golpe de morte na ditadura militar argentina, desmoralizada na guerra. No
Brasil de 1982, vigia ainda o governo militar, sob a presidência do general
João Baptista Figueiredo. O tema das guerras recebia atenção especial dos dois
governos. Historicamente, o Exército argentino era o adversário principal na
hipótese de emprego de nossas Forças Armadas numa guerra convencional. Os dois
países tinham doutrinas militares parecidas, inclusive para a guerra contra insurgentes,
movimentos armados de oposição a ambos os regimes militares.
Além
de pôr fim à ditadura argentino e sepultar a velha “doutrina de segurança
nacional” dos nossos militares, norteada pela Guerra Fria, a Guerra das
Malvinas aproximou o Brasil da Argentina. O ex-presidente José Sarney foi o
grande patrono dessa mudança, tanto do ponto de vista diplomático como militar,
estreitando a cooperação entre os dois países. Entretanto, durante o governo
Bolsonaro, desde a eleição do presidente Alberto Fernández, um peronista
moderado, as relações entre os dois países se deterioraram muito. Bolsonaro nem
à posse do colega foi, quebrando uma tradição do Mercosul.
O
país vizinho era o nosso terceiro parceiro comercial, agora é o quarto. Mesmo
assim, continua sendo o parceiro mais importante para a nossa indústria de
automóveis e de eletrodomésticos. Nosso segundo parceiro comercial são os
Estados Unidos, que estão em guerra comercial com a China, o maior destino das
nossas exportações. Ontem, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebeu com
honras de “visita de Estado” o presidente Alberto Fernández. Ambos tenta
recuperar o tempo perdido.
Durante
o encontro, Lula afirmou que é preciso “maior integração financeira” entre os
dois países. “Estamos trabalhando na criação de uma linha de financiamento
abrangente das exportações brasileiras para a Argentina. Não faz sentido que o
Brasil perca espaço no mercado argentino para outros países porque esses
oferecem crédito e nós não”, disse.
Muito
do prestígio de Maradona se deve à vitória da seleção argentina contra os
ingleses na Copa do Mundo do México, em 1986, quando fez dois gols — um com “la
mano de Dios” e o outro, numa arrancada em linha reta, driblando todos os
ingleses à sua frente. Lavou, em campo, a alma de uma Argentina humilhada. É
mais ou menos o que o presidente Alberto Fernández tenta fazer nessa viagem,
com um olho no colapso da economia argentina e o outro na própria sucessão.
Parceria estratégica
A
Argentina precisa da ajuda do Brasil para enfrentar sua crise. Lula tenta
socorrer Fernández não só porque se trata de um aliado histórico. Há reais
interesses econômicos do Brasil. “Precisamos avançar nessa direção, com novas e
criativas soluções que permitam maior integração financeira e facilitem nossas
trocas. Entre as opções, está a adoção de uma moeda de referência específica
para o comércio regional, que não eliminará as respectivas moedas nacionais”,
disse Lula.
Os
dois países vão adotar um plano com “quase 100 ações”. Na América do Sul, a
Argentina é o principal parceiro comercial do Brasil. Um dos projetos é o
financiamento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES)
para a construção do gasoduto Néstor Kirchner, que ligará o campo de gás Vaca
Muerta, em Neuquén, à localidade de Salliqueló, na província de Buenos Aires.
Há
mais de 10 anos, o nosso principal parceiro comercial é a China. No primeiro
semestre de 2020, o Brasil exportou mais de US$ 34 bilhões para o país. No
mesmo período, a importação de produtos chineses foi de US$ 16,7 bilhões.
Vendemos soja, óleos brutos de petróleo, minérios de ferro e seus concentrados,
pastas químicas de madeira e carnes desossadas de bovino congeladas,
principalmente. Compramos plataformas de perfuração ou de exploração,
flutuantes ou submersíveis; componentes para aparelhos receptores de
radiodifusão; células solares em módulos ou painéis; e celulares.
Entretanto, nossa indústria perde mercado para a China na Argentina. Para recuperar o mercado vizinho, o governo pretende promover as exportações de produtos brasileiros para a construção do gasoduto; financiar a exportação de blindados Guarani; promover um acordo de vigilância epidemiológica para a detecção antecipada de riscos à saúde pública; e acordar plano de trabalho com ações coordenadas e/ou conjuntas para a prevenção e o combate do racismo, da xenofobia e formas correlatas de discriminação no ambiente esportivo. O governo brasileiro também pretende manter apoio aos “direitos legítimos” da Argentina na disputa com o Reino Unido pelas ilhas Malvinas, Geórgia do Sul e Sandwich do Sul.
Muito bom.
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