Folha de S. Paulo
É um despropósito a Justiça ter de brincar
de Al Capone para tentar cercá-lo
É uma piada de mau gosto Jair Bolsonaro ser
julgado por abuso de poder político depois de tudo o que esse sujeito causou ao
Brasil. Imagino que, numa análise fria, a inelegibilidade, pena que ele pode
vir a receber, seja suficiente para alguns. Para outros, é só começo do inferno
astral.
Para mim, é um despudor que esse traste
ainda esteja por aí se lambuzando de Chopard e de leite condensado e a Justiça
tenha que brincar de Al Capone para tentar cercá-lo.
Não à toa, essa comparação tem sido feita ad infinitum. O mafioso era acusado de assassinato, contrabando, tráfico, suborno, rede de prostituição e jogos ilegais, mas foi enquadrado por sonegação de impostos.
Tal qual o miliciano que ocupou o Planalto,
envolvido em prevaricação, charlatanismo, crimes de responsabilidade, crimes
contra a humanidade, falsificação
de documentos, crime de lesa-pátria, ameaças ao Estado democrático de
Direito, má gestão na pandemia,
genocídio, ataques ao sistema eleitoral, estes muito antes da reunião com os
embaixadores, que lhe podem render o gancho eleitoral.
O que temos para o momento?
Inelegibilidade. Uma palavra grandona, mas uma pena muito pequena. É chacota
com os brasileiros. Jair Bolsonaro sequestrou um país inteiro, puxou o freio de
mão da nossa história, passamos os últimos quatro anos numa contagem regressiva
apenas esperando para sair do cativeiro. Ainda que possa ser apenas o começo do
seu acerto de contas, no futuro as próximas gerações olharão com assombro a
passividade do Parlamento e da Justiça, cúmplices na manutenção da sociedade
como refém de um golpista e seus capangas.
Ou talvez a inelegibilidade para Bolsonaro
seja o máximo possível num país que deixa livre o motorista bêbado que mata
pedestre, a dona de casa que deixa cair do prédio o filho da empregada, os
maridos que matam suas mulheres, mas que bota na cadeia gente que rouba para
comer ou para não morrer de frio.
O País dos absurdos em série.
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