quinta-feira, 8 de junho de 2023

Míriam Leitão - As boas notícias na queda da inflação

O Globo

Com a redução, o Banco Central deve avisar na próxima reunião que os juros caem (tardiamente) em agosto

Há várias boas notícias na inflação divulgada na terça-feira. O IPCA foi de 0,23% em maio, mais baixo do que o esperado. O acumulado no ano está abaixo de 3%, o acumulado em doze meses está abaixo de 4% e o índice de dispersão é o menor em quase três anos. Mesmo com a alta dos números esperados para julho, agosto e setembro, as previsões para o IPCA do ano estão em queda. O economista José Roberto Mendonça de Barros acredita que ficará em 5% em 2023 e que a inflação de alimentos será zero no ano. O Banco Central na próxima reunião, nos dias 20 e 21 de junho, deve avisar que os juros caem em agosto.

O BC segue a regra de comunicar nos encontros que no próximo fará um movimento. É só por isso que fica para agosto essa redução, porque a inflação tem surpreendido favoravelmente. O IGP-M está em 4,47% negativo nos últimos doze meses, ou seja, está em deflação nesse período de um ano. Os preços no atacado estão em forte redução e o repasse dessa deflação para o varejo só começou, na visão de José Roberto.

O que aconteceu com a economia foi que a super safra, que garantiu um PIB mais alto do que o esperado no primeiro trimestre, acabou produzindo também a boa notícia da queda dos preços de diversos alimentos. Até o começo de maio, a soja e o milho em Mato Grosso tiveram redução de 28% e 32%. E isso tem impactos positivos nos preços da carne, leite e ovos. Os custos de produção também estão em queda. O dólar está em torno de R$ 5. Tudo isso junto monta um cenário muito positivo para a inflação.

Um indicador importante na inflação é o índice de dispersão que revela quantos preços subiram entre os preços pesquisados. O dado mostra se há uma alta generalizada, ou não. A dispersão está no menor patamar desde agosto de 2020, segundo nota publicada no meu blog, por Maeli Prado. O percentual já chegou a 78% em abril do ano passado e agora está em 55,97%, mostrando que apenas um pouco mais da metade dos 377 itens que formam o IPCA subiram no mês de maio. O espalhamento da inflação está menor, portanto controlá-la é mais fácil.

A expectativa dos economistas é que em junho a inflação pode até ser zero, ou até negativa, derrubando um pouco mais a acumulada em 12 meses. Depois haverá o efeito reverso da deflação artificial do ano passado. Em julho, agosto e setembro de 2022, houve deflação porque o governo Bolsonaro tirou os impostos sobre os combustíveis, para forçar a queda da inflação e aumentar a sensação de conforto econômico. Era parte da campanha eleitoral. Mas agora, os impostos federais voltaram a ser cobrados na gasolina e os impostos estaduais foram recompostos em nova forma de cobrança. Ainda assim a inflação está baixa. Nesses três meses, contudo, o acumulado em 12 meses vai subir. É uma alta prevista, que não traz preocupação. O economista Luis Menon, da Garde Asset Management, acha que o IPCA do ano pode até ficar dentro do espaço de flutuação da meta, cujo teto é 4,75%.

Com todas essas boas notícias, pode-se perguntar por que os juros continuam em 13,75%. Não há muita explicação, exceto o fato de que o Banco Central estar atrasado em relação à necessária correção. A política monetária apertada acabou atingindo o resultado. A inflação que chegou a 12% está agora em 3,94% em 12 meses. O Banco Central precisa completar o trabalho e reduzir os juros. As taxas escalaram no momento certo, mas estão atrasadas na queda.

Quando a inflação cai tanto assim, e os juros permanecem no mesmo patamar, obviamente os juros reais estão subindo. Se começasse a reduzir os juros não haveria consequências ruins de alta da inflação, até porque o contexto é de queda forte dos preços de alimentos por causa de uma super safra e um contexto internacional melhor. Ao avisar em junho que a Selic cai na reunião seguinte, ou seja, agosto, o BC pode anunciar uma queda de meio ponto percentual. Será o início de um ciclo de redução do aperto monetário.

A briga política, que levantou até a hipótese de fim da autonomia da instituição, não produziu qualquer efeito positivo, pelo contrário fez o BC encastelar-se ainda mais em sua ortodoxia. Mas o fato é que o Banco Central, em seu primeiro teste de independência, fez certo o movimento da alta dos juros, e perdeu a hora de reduzi-los. Mas as condições estão dadas e a inflação divulgada ontem comprova isso.

 

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