O Globo
Governo precisa focar na articulação
política e entender que não governa sozinho
O dia de ontem foi tenso demais, e quem vê
o resultado final, que
foi aprovação da MP da reestruturação dos ministérios, pode achar que foi
muito barulho por nada. Afinal foram 337 votos a favor do governo.
O resultado final foi uma votação
consagradora, de votação de emenda constitucional. Mas a primeira coisa a
entender é que foi uma derrota, porque consagrou o esvaziamento do Ministério
do Meio Ambiente e perda de poder no Ministério dos Povos Indígenas.
Entre o ruim e o pior, ficou o ruim. O
governo se colocou nessa situação ao deixar para a negociação para o final, e
acabou ficando contra a parede.
Mais que isso. Se revelou ao longo do dia de ontem entre as muitas conversas com os parlamentares, líderes em reunião com o presidente da Câmara que há total desarticulação entre o Executivo e o Legislativo.
O próprio presidente Lula não tem recebido
muito os políticos para conversar. Ontem falou com Elmar Nascimento, líder do
União Brasil, que depois defendeu a aprovação do projeto. O União Brasil tem
três integrantes no governo, mas Lula só conversou com uma ala do partido.
Houve também muita liberação de emendas, e
é importante destacar que não é um dinheiro clandestino. São emendas que os
parlamentares têm o direito de propor e que o Executivo tem o direito de
cumprir, e que estavam atrasadas.
É preciso haver mais conversa, mais
diálogo, e os ministros que fazem a articulação política, Rui Costa e Alexandre
Padilha, têm sido muito criticados no Congresso.
Ontem foi um dia com vários momentos de
tensão, inclusive a hora em que Arthur Lira deu entrevista às 19h num
verdadeiro ultimato, avisando que o governo poderia perder, e não seria culpa
do legislativo.
No final foi aprovado, mas fica o recado
principal. Governo, presta atenção, porque ninguém conversa sozinho. O PT não
governa sozinho, precisa de coalizão e diálogo com todas as forças políticas
que o apoiam. A cada votação, terá que construir maiorias.
O presidente não pode terceirizar assuntos
internos a auxiliares e tratar somente de assuntos internacionais.
Verdade.
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