“Um elemento de erro na consideração sobre
o valor das ideologias, ao que me parece, deve-se ao fato (fato que, ademais,
não é casual) de que se dê o nome de ideologia tanto à superestrutura
necessária de uma determinada estrutura, como às elucubrações arbitrárias de
determinados indivíduos. O sentido pejorativo da palavra tornou-se exclusivo, o
que modificou e desnaturou a análise teórica do conceito de ideologia. O
processo deste erro pode ser facilmente reconstruído: 1) identifica-se a
ideologia como sendo distinta da estrutura e afirma-se que não são as
ideologias que modificam a estrutura, mas sim vice-versa; 2) afirma-se que uma
determinada solução política é “ideológica”, isto é, insuficiente para
modificar a estrutura, enquanto crê poder modificá-la se afirma que é inútil,
estúpida, etc.; 3) passa-se a afirmar que toda ideologia é “pura” aparência,
inútil; estúpida, etc. É necessário, por conseguinte, distinguir entre
ideologias historicamente orgânicas, isto é, que são necessárias a uma
determinada estrutura, e ideologias arbitrárias, racionalísticas,
“voluntaristas”. Enquanto são historicamente necessárias, as ideologias têm uma
validade que é validade “psicológica”: elas “organizam” as massas humanas,
formam o terreno no qual os homens se movimentam, adquirem consciência de sua
posição, lutam, etc. Enquanto são “arbitrárias”, não criam mais do que
“movimentos” individuais, polêmicas, etc. (nem mesmo estas são completamente
Inúteis, já que funcionam como o erro que se contrapõe à verdade e a afirma).”
*Antonio Gramsci (1891-1937). Cadernos do Cárcere, v.1. p.237-8. Civilização Brasileira, 2006.
''Ideologias arbitrárias e voluntaristas''',o conceito se aplica ao bolsonarismo.
ResponderExcluir