Folha de S. Paulo
A morte de um cinegrafista foi o clímax das
manifestações de 2013, que se estenderam até 2014
As "jornadas"
de junho de 2013, que instauraram a antipolítica no Brasil
e deram no que deu, fizeram dez anos na semana passada com
extenso tratamento pela mídia. Mas ainda há muito a dizer, porque elas não se
limitaram àquele junho. A barbárie estendeu-se pelos meses seguintes e
atravessou o ano, chegando ao seu clímax no dia 6 de fevereiro de 2014. Na
tarde daquele dia, durante um quebra-quebra envolvendo polícia e manifestantes
em frente à Central do Brasil, no centro do Rio, dois ativistas acenderam um
rojão e o dispararam contra a multidão.
No meio do caminho, com a câmera no ombro, o olho na lente e de costas para eles, havia um cinegrafista. O rojão rastejou em velocidade, subiu e explodiu em sua cabeça. Ele se chamava Santiago Andrade, tinha 49 anos e era da Band. Levado para o Hospital Souza Aguiar, lutaram desesperadamente para salvá-lo. Quatro dias depois, teve a morte cerebral decretada. Deixou mulher e filha.
Santiago foi um dos 117 jornalistas que,
desde o começo das "jornadas", sofreram intimidações, agressões
físicas, dano de equipamento, atropelamentos, ataques de cachorros e bombas. A
violência vinha tanto da polícia quanto dos manifestantes, entre os quais
os blackblocs, mascarados que surgiam ao fim de cada protesto
depredando patrimônio público e particular. A diferença entre os baderneiros de
2013 e os golpistas do 8 de janeiro é que estes sabiam o que queriam. A morte
de Santiago ajudou a acabar com aquele caos.
Os assassinos de Santiago foram presos dali
a dias, mas até hoje não foram julgados. Graças a um habeas corpus, estão
em liberdade.
De 2006 a 2010, mantive uma crônica cinco vezes por semana na Band News. Eram gravadas numa só tarde em meu apartamento, sempre às terças-feiras, pelo produtor João Paulo Duarte e o assistente Pão com Ovo. O cinegrafista, grande sujeito, Flamengo até morrer, era Santiago.
Que pena!
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