Folha de S. Paulo
Ministros falam de mudanças e que governo
aprovou maioria de suas prioridades
O centrão-direitão do Congresso colocou
uma faca no pescoço do governo durante a votação da
medida provisória que reorganizava ministérios e alta
administração pública, como se sabe. Lula 3 correu algum risco regredir ao
formato do governo das trevas (2019-2022).
O "recado" foi entendido,
negocia-se o embarque mais organizado de parte do centrão-direitão no governo e
ministros estão sendo chamados a mudar seu relacionamento com parlamentares.
Mas o balanço desse quase primeiro semestre de Lula 3 é melhor do que parece,
na visão de ministros e responsáveis pela articulação política.
Esse pessoal do Planalto diz que quase
todas as medidas prioritárias do governo estão sendo aprovadas. Seguem exemplos
mais adiante neste texto.
O que muda? O União Brasil quer renomear pelo menos um dos ministérios que, nominalmente, seriam do partido (mas não são: o governo havia feito um acordo com a cúpula do União Brasil).
A maioria do Republicanos (partido
da Universal) quer integrar o governo, em especial as bancadas de Norte e
Nordeste. Mas a engenharia é complicada. O partido abriga uma ala do
bolsonarismo e sua direção não pode fazer um acordo formal com Lula 3. O
governador de São Paulo, Tarcísio de
Freitas, e a senadora Damares Alves (Distrito
Federal) são do Republicanos.
O PP de Arthur Lira,
presidente da Câmara, também
negocia termos de paz e cargos com Lula 3. A turma bolsonarista
ou por demais identificada com o governo anterior, como Ciro Nogueira,
"liberou" seus colegas.
Além de levar ministérios, esse trio de
partidos pode ocupar cargos de comando em certas pastas, estatais etc.
No Planalto, se diz que o governo inteiro
tem agora noção da "nova realidade política". O Congresso
está acostumado a mais poder desde Michel Temer.
Sob Jair
Bolsonaro, se tornou um gestor da execução do Orçamento, muito além
das emendas parlamentares. Decretos legislativos, derrubadas de vetos e a
disputa de nomeações para agências de Estado mostraram ao Executivo, nos
últimos anos, que o Legislativo quer e tem mais poder executivo (sic).
Para o Planalto de Lula 3, não será
possível voltar ao balanço de poder de 2010, mas é preciso "rever a
relação" estabelecida na segunda metade do governo das trevas. Em certos
assuntos, como em meio ambiente ou "pauta de costumes", o governo
terá "sorte" se sair vivo (se conseguir evitar retrocessos graves).
O que deu certo, na visão do Planalto?
O governo contribuiu para uma eleição
tranquila, sem risco político, para as presidências de Câmara e Senado. O PT ou
aliados assumiram o comando de comissões importantes do Congresso, como a de
Constituição e Justiça da Câmara, além de evitar que a extrema direita levasse
outras, como a de Direitos Humanos ou de Meio Ambiente. Derrubou-se a
"pauta bomba", medidas aprovadas pelo governo das trevas no final do
mandato.
Foram reinstituídos programas sociais ou se
está à beira de fazê-lo: Bolsa Família, Minha Casa
Minha Vida, Mais Médicos.
Houve derrota no caso da
Funasa, revivida, um cabide de nomeações políticas na Saúde que
muito governo tenta extinguir. Vai ser difícil mudar o Carf (como fazer o
governo voltar a ter maioria no tribunal administrativo da Receita), mas o caso
não estaria perdido.
O "arcabouço
fiscal" deve passar quase como projetado pelo governo. O
pessoal do Planalto acha que também vai aprovar na Câmara, no primeiro
semestre, a reforma
tributária. Neste caso, o otimismo pode ser excessivo. Apenas agora,
quando se discute dinheiro de verdade, é que o problema vai começar. Prefeitos,
estados e empresas de serviços querem tantos privilégios que, como de costume,
a reforma pode cair ou ser desfigurada ao ponto da inutilidade.
Pois é.
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