Folha de S. Paulo
Governo tem metas fiscais e de inflação;
balanço do primeiro semestre é positivo
A meta de inflação que o Banco Central deve
acertar ficou
em 3% para 2024, 2025, 2026 e a perder de vista, pois houve a tão falada
mudança do sistema, de cumprimento de metas no dito ano calendário para um
horizonte flexível.
A manutenção da meta foi uma decisão razoável de Lula 3. A alteração da data de cumprimento da meta não vai fazer lá diferença, se alguma. A ironia é que, com essa mudança, o Banco Central passa a ter mais autonomia, atributo detestado por grande parte do petismo.
Ter deixado a meta em 3% deve redundar em alguma redução de expectativas de inflação e de taxas de juros de prazo mais longo, afora no caso de outras mudanças importantes no cenário econômico doméstico e internacional.
É um benefício grátis. Vinha sendo prejuízo
desde que parte do governo Lula 3 e o comando petista passaram a defender o
aumento da meta, imaginando assim, de modo tristemente tolo, que as taxas de
juros poderiam cair (subiram, como era previsível).
Quanto
à mudança do sistema de metas, o efeito deve ser mínimo. No entanto, ainda
falta conhecer o decreto presidencial que vai regulamentá-lo. Daí ainda pode
sair alguma besteira, como fixar uma data muito distante para que o BC acerte a
meta. De qualquer modo, na prática, é provável que o BC acabe decidindo esse prazo.
Um BC ruim pode empurrar a coisa com a barriga de modo irresponsável ou tentar
cumprir sua missão a ferro e a fogo, tanto faz a data determinada por um
decreto.
Dentro do universo mais razoável, não deve
haver novidade maior porque o BC costuma trabalhar com horizontes flexíveis. Em
algumas administrações, como nesta de agora, a diretoria do BC anunciou até de
modo explícito que o acerto da meta será postergado, por motivos sensatos. Em
caso de choques de preços (energia, secas e guerras ou outras crises mundiais),
não é de bom senso submeter a economia a uma paulada de juros a fim de cumprir
a meta em prazo exíguo. No mínimo, causa variação excessiva de PIB, entre
outros problemas. Como é fácil verificar, é o que tem feito o BC pelo menos
desde meados de 2022.
Não está claro também se, como e quando o
presidente do BC terá de escrever a carta de "mea culpa" sobre um
eventual descumprimento da meta de inflação. De qualquer modo, não se dava
muita bola para tal exposição de motivos. Presta-se mais atenção ao que o BC
diz em seu relatório trimestral de inflação, de modo mais profundo, ou na ata
das reuniões em que se decide a Selic, de
passagem.
Ainda assim, seria conveniente criar
maneiras para responsabilizar as direções dos BCs, aqui e no mundo inteiro.
Essas pessoas têm enorme poder e na prática quase não respondem pelos seus atos
(quanto a decisões de política monetária, melhor dizendo).
Com a decisão do Conselho Monetário
Nacional, completam-se as diretrizes maiores de política macroeconômica de Lula
3: há metas de saldo (déficit ou superávit) das contas públicas, limites de
crescimento de gasto, metas de inflação. Falta saber como o governo vai lidar
com tais objetivos, direta ou indiretamente.
Isto é, como vai fazer o aumento da carga
tributária necessário para que sua política de gastos e dívida funcione, se vai
mexer em outras taxas de juros (BNDES, por exemplo), se vai ter política
comercial diferente (abertura e acordos), o que vai fazer das estatais ou de
concessões de obras e serviços para o setor privado.
Quanto a diretrizes, o primeiro semestre de
Lula 3 foi melhor do que se previa, dada a bobajada que se ouviu desde
novembro, e embora a meta fiscal seja muito difícil de cumprir, com riscos
feios de aumento de dívida. Ainda assim, até agora Fernando
Haddad conseguiu colocar certa ordem na casa.
Verdade.
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