Folha de S. Paulo
Políticos festejam ação da PGR contra
excessos da Lava Jato, mas é impossível ignorar pacote completo
Para conseguir o cargo pela primeira
vez, Augusto Aras piscou
para Jair
Bolsonaro. O aspirante ao comando da PGR driblou a eleição para a
tradicional lista tríplice e moldou uma candidatura que agradava ao presidente.
Definiu seu perfil como conservador, defendeu um alinhamento com a agenda do
governo e disse que ações de
proteção do meio ambiente "não podem ser radicalizadas".
Foi "amor à primeira vista", como disse Bolsonaro. E era só o começo. Sentado na cadeira, Aras ofereceu um procurador-geral que não incomodava e, em momentos de crise, ajudava a desviar alguns disparos feitos pelo caminho. Foi reconduzido ao cargo sem esconder essa aliança.
Com o segundo mandato perto do fim, Aras
voltou ao modo campanha. Numa prestação de contas feita sob medida
para um novo público, o procurador-geral expõe suas impressões
digitais no enterro da Lava Jato, faz propaganda da atuação do Ministério
Público na Amazônia e, sem corar, jura que o órgão não hesitou em investigar
Bolsonaro.
Há três possíveis motivações para o
esforço: ele só tenta limpar a própria barra antes de se aposentar, acena ao
campo de Lula para influenciar a escolha do sucessor ou faz uma pirueta para
convencer o petista a indicá-lo para um novo mandato.
Mais gente leva a sério a terceira hipótese
do que permite o marketing do procurador. O centrão quer a recondução porque
Aras reduziu a temperatura de investigações contra políticos. Cardeais petistas
seguem um caminho parecido, com o argumento de que o chefe da PGR enfrentou os
abusos da Lava Jato.
Aras poderia ser apenas um guardião
intransigente do direito de defesa, garantir uma luta incansável contra os
excessos do Ministério Público e até prometer proteção coletiva à classe
política, mas é impossível ignorar o pacote completo. Um terceiro mandato seria
um prêmio à blindagem oferecida a Bolsonaro por uma gestão que chegou a questionar a
eficácia de máscaras durante a pandemia e descreveu
ensaios golpistas como festas democráticas.
Pois é.
ResponderExcluir