Folha de S. Paulo
Ministros deveriam, no mínimo, evitar
espaços com alta voltagem política e proteger juízos de tintas partidárias
Era setembro de 2015, e o governo Dilma
Rousseff caía pelas tabelas. Depois de participar de um
seminário na Fiesp, o ministro Gilmar Mendes prenunciou
o fim do ciclo do PT. Ele disse que o partido tinha o objetivo de "se
eternizar no poder" e insinuou que o plano seria interrompido. "O que
atrapalhou? A Lava Jato.
A Lava Jato estragou tudo", declarou.
O impeachment de Dilma ocorreria no ano seguinte, num processo com as marcas da Lava Jato (que divulgou escutas ilegais da então presidente), da Fiesp (que bancou protestos contra a petista) e do próprio ministro (que impediu a posse de Lula como chefe da Casa Civil).
A conversão de Gilmar num fervoroso crítico
dos abusos da operação empresta uma ironia singular ao episódio. Mas aquela não
foi a primeira nem a última vez que um ministro do STF fez comentários
despreocupados sobre casos julgados pelo tribunal e seus impactos na vida
política do país, enquanto confraternizava com uma entidade que tem seus
próprios interesses no jogo.
Luís Roberto
Barroso tropeçou na língua ao participar
de um congresso da UNE na quarta (12). "Já enfrentei a ditadura
e já enfrentei o bolsonarismo", disse o ministro, que presidiu o TSE
durante a preparação das últimas eleições e enfrentou ataques da extrema
direita às urnas.
Tudo indica que Barroso tentava dar uma
carteirada para a plateia de esquerda que o vaiava. Como a toga não serve para
fazer enfrentamento político, o ministro precisou explicar, no dia seguinte,
que se referia apenas ao
golpismo do antigo presidente. Depois, ofereceu a mesma
justificativa ao presidente do Senado, que chamara o comentário de "infeliz,
inadequado e inoportuno".
Barroso poderia ter passado a semana sem a declaração e sem a retratação. Cobrar um voto de silêncio de integrantes do STF seria ingenuidade, assim como cair na onda de bolsonaristas que cobram uma punição. Mas os ministros precisam, no mínimo, evitar espaços com alta voltagem política e proteger seus juízos de tintas partidárias.
O ministro apenas jogou pra plateia,uma gente deseducada,diga-se.
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