Folha de S. Paulo
Participação do Brasil apressa ajustes
suaves de Lula sobre democracia na Venezuela
A declaração assinada em Bruxelas por eleições
justas na Venezuela manda a bola para Nicolás
Maduro. A oposição do país pode participar de quantas reuniões
quiser, mas quem vai definir se a disputa merece o adjetivo é o regime que
controla as instituições, concentra autoridade política e opera o poder
econômico.
A participação de Lula na jogada apressou um suave ajuste de posição. O presidente defendia que Maduro mostrasse ao mundo que é capaz de vencer eleições livres e transparentes, mas a assinatura no documento fez com que o petista tivesse que afinar ao menos três pontos durante sua passagem pela Bélgica.
Primeiro, Lula topou se sentar com a
oposição venezuelana, ao lado de líderes de Argentina, Colômbia, França e União
Europeia. Há poucas semanas o presidente brasileiro se referiu aos adversários
de Maduro como "gente
que não quer aceitar o resultado" das eleições no país.
Na saída do encontro, o petista falou em
"normalizar a situação na Venezuela". É provável que Lula desse mais
peso às sanções econômicas impostas ao país do que às violações democráticas do
regime, mas reconhecer que há algo anormal pode ser considerado um passo
relevante para alguém que se
concentrava em criticar narrativas contra Maduro.
A declaração assinada pelo Brasil é mais
exigente do que o conceito de democracia relativa que Lula já adotou para
defender o regime venezuelano. Recentemente, o petista ironizou acusações
contra Maduro com a constatação de que "a Venezuela tem mais eleições do
que o Brasil".
O documento de Bruxelas determina que
realizar eleições não é o bastante. Elas devem ser "justas para todos,
transparentes e inclusivas", além de permitir a participação de opositores
de acordo com a lei e contar com o acompanhamento de observadores
internacionais (algo que alguns aliados de Maduro rejeitam).
Lula subscreveu às exigências. O petista
está mais interessado na contrapartida que prevê uma suspensão das sanções
americanas à Venezuela, mas o fato é que seu nome está lá.
A ver.
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