terça-feira, 25 de julho de 2023

Dora Kramer - Quando Lula dá defeito

Folha de S. Paulo

As gafes podem até humanizar o presidente, mas também o aproximam do estilo de Bolsonaro

As gafes não são novidade nas palavras de Luiz Inácio da Silva cidadão, sindicalista ou presidente. Nesta condição, contudo, é que por óbvio atraem atenção; por vezes condescendente, mas na maioria crítica e com toda razão.

África, que vem de ouvir um agradecimento pelos serviços prestados durante "os 350 anos de escravidão", é freguesa antiga. Há 20 anos, em novembro de 2003, Lula então em seu primeiro ano de mandato estava na Namíbia e, ao lado do presidente Sam Nujoma, resolveu elogiar a capital, Windhoek.

Muito limpa e bem construída, a cidade causou surpresa no brasileiro: "Quem chega a Windhoek não parece estar num país africano". E prosseguiu: "A visão que se tem da África é que aqui são todos pobres". E sujos, faltou dizer para completar a rata.

Imagine-se a reação a um governante estrangeiro que chegasse aqui surpreso com a ausência de cobras, onças, lagartos e jacarés nas ruas de Brasília.

A lista de disparates da autoria do presidente Lula é extensa. Já se configura como marca registrada, mas só agora dispara na equipe presidencial o sinal de alerta de que é preciso uma correção nesse modo de comunicação, que não é mais visto com a graça de antes.

É o que parece ter inspirado a ideia de anunciar um "reforço" na área de comunicação responsável pela redação dos pronunciamentos presidenciais.

A providência adotada é boa, mas considera os efeitos e desconsidera a origem do defeito, que não está na assessoria do presidente, mas sim na autoria dos improvisos.

Por isso, transferir responsabilidade a redatores vai dar em nada além da produção de fortuito verniz de preocupação com os deslizes que Lula considera um ativo no quesito espontaneidade, muito útil para identificação popular.

Quando dá esse tipo de defeito, o presidente se humaniza, mas também se aproxima do antecessor, cujo estilo não lhe foi bom conselheiro.

Um comentário:

  1. Bolsonaro nunca cometeu ''gafe'',ele tem orgulho de ser politicamente-incorreto o tempo todo.

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