terça-feira, 25 de julho de 2023

Eliane Cantanhêde - Crime perfeito?

O Estado de S. Paulo

Marielle: não há crime perfeito, há investigações malfeitas ou feitas para dar em nada

O avanço das investigações sobre o assassinato de Marielle Franco e Anderson Gomes é, como a defesa efetiva dos territórios yanomamis, uma derrota para o governo Bolsonaro e uma vitória para o de Lula. Um lavava as mãos e gerava desconfiança sobre o real interesse em desvendar o crime, enquanto Lula já assumiu com o compromisso de ir às últimas consequências para responder a duas perguntas: quem matou Marielle? Por quê?

Marielle era e é uma síntese de diversidade, complexidade e injustiça no Brasil: mulher, negra, linda, vereadora, de origem pobre e LGBTQIA+. E ela dedicava a carreira política e a vida a proteger os mais vulneráveis e a perseguir os agressores poderosos. Virou símbolo de coragem nas comunidades pobres e ameaça para as milícias. Por uma coincidência cheia de simbologia, as investigações dão um salto justamente quando uma outra síntese encanta o Brasil na Copa: Ary Borges.

Pelo crime, lá se vão cinco anos, foram presos os ex-policiais Ronnie Lessa, autor dos tiros, e Élcio de Queiroz, que dirigia o carro. Que motivo eles teriam para matar Marielle e Anderson? A resposta é: dinheiro, porque os dois são milicianos, assassinos de aluguel. Com a delação premiada de Élcio, surgiu a nova operação da PF, que prendeu o ex-bombeiro Maxwell Simões Corrêa, o Suel, e fez sete buscas e apreensões.

O ministro Flávio Dino (Justiça), que pegou o touro a unha desde a posse, já tinha avisado que haveria “novidades” e, agora, deixa no ar que as apurações estão bem mais avançadas do que parecem. Logo, cresce a esperança de que o crime que abalou o Rio de Janeiro e o Brasil e ganhou manchetes internacionais seja, finalmente, desvendado. Vamos todos saber quem, e por que, mandou matar a vereadora que enfrentava poderosos e milicianos.

Desde 2018, houve várias mudanças nas equipes da Polícia Civil do Rio, da PF e do Ministério Público, e a então procuradora-geral, Raquel Dodge, fez tudo para federalizar as investigações, mas em quem confiar, nas autoridades do Rio ou de Brasília? Afinal, Bolsonaro foi acusado pelo ex-ministro da Justiça Sérgio Moro e respondeu a processo no Supremo por interferência na PF.

Mudaram o presidente, o governo, o ministro da Justiça, a PF e foi criado até o Ministério da Igualdade Racial, ocupado por... Anielle Franco, irmã de Marielle e tão guerreira como ela. As condições são outras e solucionar o crime é uma questão de honra para o governo e para a Nação. Como reforça Flávio Dino, “não existe crime perfeito”. O que há são investigações imperfeitas, ou propositalmente feitas para não dar em nada. Não é mais o caso.

 

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