O Estado de S. Paulo
Pra que reforçar equipe de redatores, se Lula detesta discursos e só fala o que quer?
Dizem que, com a maturidade, as pessoas
“melhoram” e, com a velhice, ficam mais suaves. Sei não... O presidente Lula,
por exemplo, está mais arisco, afoito e boquirroto do que nos dois primeiros
mandatos e, com a idade, os seus defeitos e convicções, como os nossos, só
aprofundam.
Nos governos 1 e 2, o redator dos discursos de Lula era o baiano Carlos Tibúrcio, jornalista, escritor e ex-líder estudantil preso na ditadura. Agora, é o mineiro José Rezende Jr., também jornalista, culto, discreto, com ótimo texto, que vai ganhar reforços, até de uma assessora de Janja. Mas Lula não gostava e continua não gostando de ler discursos. Dá uma espiada e deixa de lado. Na posse do governo 3, pôs os óculos para ler o texto da assessoria, ironizando: “para parecer intelectual”.
Na Namíbia, em 2003, ele se saiu com essa:
“Aqui é tão limpinho que nem parece a África”. O então assessor internacional,
Marco Aurélio Garcia, deu um pulo do sofá. Agora, em Cabo Verde, agradeceu “por
tudo o que foi produzido em 350 anos de escravidão”. Nem é tão grave, porque
fica clara a intenção, mas é mais um escorregão, com mais uma saraivada de
críticas.
O problema maior nem é com improvisos e
gafes, mas sim com as crenças e a ideologia de Lula, para quem a democracia “é
relativa” e a ditadura da Venezuela é só “uma narrativa”.
Ou que a Ucrânia tem a mesma
responsabilidade da Rússia na própria invasão. Nos dois casos, emerge a
comparação entre a velha esquerda e a nova esquerda do “jovem apressado”
Gabriel Boric, presidente do Chile.
Uma, antiamericanista, “nacionalista” e
estatizante, vivendo no mundo da Guerra Fria, onde “as minhas ditaduras” eram
melhores que as dos adversários. A outra, aberta, liberal, com inclusão social,
diversidade, estado moderno e setor privado forte, onde ditadura é ditadura e
quem invade é culpado, quem é invadido é vítima.
Lula também mantém suas idiossincrasias.
Acha que pode tudo, detesta decidir por pressão, demora um mês para trocar a
ministra do Turismo e não suporta metidos a saber tudo e lhe dar aulas, o que
mexe com um trauma: com inteligência e experiência de vida excepcionais, não
tem diplomas e não fala línguas.
Suas relações com Fernando Henrique e os
ex-ministros Tarso Genro (Justiça) e Cristovam Buarque (MEC) – demitido por
telefone – passam por esse fator psicológico, que agora deixa Jean Paul Prates
por um fio na Petrobras. Com alívio do ministro Alexandre Silveira (Minas e
Energia), mas nada a ver com Centrão. É Lula com Lula e seus fantasmas:
“petrolão”, “professores de Deus”, convicções sobre a maior estatal brasileira.
Pra que discursos?
Jesus!
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