O Estado de S. Paulo
Se os ministros estão com a cabeça a prêmio, os da área social também?
Com dois ministérios, um para o PP, outro
para o Republicanos, uma estatal daqui outra dali e R$ 7 bilhões em emendas de
uma tacada só, o presidente Lula conseguiu a aprovação folgada da reforma
tributária e da mudança no Carf e obteve a sua maior vitória desde a posse:
isolou o PL na Câmara, dividiu a extrema direita e ajudou a empurrar Bolsonaro
de volta à insignificância.
Por uma barbeiragem do Planalto, a votação da reforma ficou por um fio na quinta-feira. O ministro da Comunicação Social, Paulo Pimenta, entendeu errado a reunião de Lula com a (ainda...) ministra do Turismo, Daniela Carneiro, e soltou nota dizendo que ela continuava no cargo. Para quê? O União Brasil (UB) da Câmara pegou em armas, ameaçando votar contra a reforma, o Carf e a âncora fiscal.
Alexandre Padilha, da Articulação Política,
teve de soltar uma segunda nota para desmentir Pimenta e avisar que Daniela
está fora e o deputado Celso Sabino, dentro do Turismo. Após um mês na
frigideira, a ministra foi demitida por uma nota. O UB reduziu a retaliação a
um pedido de adiamento da votação, que foi derrubado, e votou a favor da
reforma e do Carf.
A reforma tributária e a âncora fiscal são
importantes para o País e tiveram forte sopro de fora para dentro do Congresso,
com pressão de entidades, empresas, economistas e mídia. Logo, não são vitórias
do interesse exclusivo do governo. Mas a do Carf é. Com o “voto de qualidade”,
o governo recupera o poder de desempate no Carf, que arbitra conflitos entre
Fisco e empresas, e pode lucrar R$ 50 bilhões em 2024.
Daí, Lula ligou para Lira na sexta-feira,
com um pedido e uma oferta: a votação do Carf no mesmo dia, antes do recesso
branco, em troca dos dois ministérios para o Centrão. O Carf foi aprovado e o
acordo, selado na mesma tarde no Alvorada. A guerra, porém, continua na Câmara,
com a âncora fiscal, e no Senado, com a reforma e o Carf.
O Centrão já viu que a Saúde não dá e, como
antecipado aqui, desviou o olho gordo para o Ministério do Desenvolvimento
Social (MDS), além de Caixa Econômica, Correios, Embratur... Lula dá limites.
Os outros ministros estão com a cabeça a prêmio, mas, nos da área social,
ninguém mexe.
Enquanto Lula se acertava com o Centrão, seu maior (ex) crítico no PP, senador Ciro Nogueira, dava uma cambalhota e dizia que “nenhuma oposição pode ser contra o Brasil”. Do outro lado, Janja visitava o MDS, blindava o ministro Wellington Dias, do PT, e postava que a população pobre é “a prioridade desse governo”. Lula não vai entregar a prioridade do seu governo para o Centrão, ou vai?
Tomara que não.
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