O Globo
O economista Marcio Pochmann foi escolhido
para a presidência do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística numa
cavalgada típica do comissariado petista. O IBGE está na jurisdição do
Ministério do Planejamento, de Simone Tebet, e, de certa forma, sob o
guarda-chuva da Fazenda, de Fernando Haddad. Na quarta-feira, o titular da
Comunicação, Paulo Pimenta, anunciou:
“Marcio Pochmann será o novo presidente do
IBGE e não tem nenhum ruído quanto a isso.”
Ilusão de palaciano. Horas antes, a
ministra Tebet havia dito à repórter Miriam Leitão que não conhecia Pochmann e
que a escolha do novo presidente do IBGE seria tratada na hora certa. Tebet e,
de certa forma, Fernando Haddad foram atropelados pelo comissariado petista.
Pimenta fez o anúncio a mando de Lula. Pochmann é um veterano militante da
constelação de economistas do PT, tentou um voo como candidato à prefeitura de
Campinas e perdeu.
O ruído que Pimenta garantiu não existir, aconteceu, mas difere dos demais. Simone Tebet tem as boas maneiras de seu pai, Ramez, que presidiu o Senado. Como ela mesma disse, escolhe suas batalhas. Quem a viu na CPI da Covid, sabe como as trava.
Lula e o comissariado não precisavam
atropelar Simone Tebet como fizeram. Até as pedras de Brasília sabiam que o
nome de Pochmann estava no tabuleiro e não há sinal de que a ministra do
Planejamento batalhasse para barrá-lo. Isso aconteceu por dois aspectos da
onipotência petista. A subjetiva leva-os a pensar que podem tudo. Já a
onipotência objetiva leva-os a mostrar que podem fazer de tudo, pois ninguém os
contrariará.
Na mesma entrevista em que revelou não
conhecer Pochmann, a ministra Tebet lembrou que Lula foi eleito por
“milésimos”, graças a uma frente política. (Lula derrotou Bolsonaro por uma
diferença de 1,8 ponto percentual.) Mais: “Sabemos que o embate de 2026 começa
em 2024”. Tradução possível: Simone Tebet travará suas batalhas em 2024.
Uma coisa seria travar batalhas em torno de
temas relevantes. Bem outra será ver batalhas provocadas por atitudes
onipotentes embrulhadas em grosserias. Essa receita já explodiu em 2016.
Tebet em 2022
Não custa lembrar que, em julho de 2022,
quando ainda era candidata a presidente pelo MDB, Simone Tebet anunciou que se
houvesse um segundo turno sem a sua participação, ela apoiaria o candidato que
defendesse a democracia.
Caso raro de candidato que, antes do
primeiro turno, praticamente declara seu voto no segundo. Questão de elegância.
O futuro de Moro
Um sábio, que ainda no ano passado garantia
que Jair Bolsonaro acabaria inelegível, assegura: o senador Sergio Moro terá o
mandato cassado.
Moro esteve com o senador Davi Alcolumbre e
não ouviu bons comentários.
A morte de Alexandre Cabeça
Um conhecedor do direito e do avesso da
vida do Rio estranha que com a reabertura do caso do assassinato da vereadora
Marielle Franco e de seu motorista, Anderson Gomes, ninguém tenha falado da
execução de Carlos Alexandre Pereira Maria, dias depois.
Alexandre Cabeça, como era conhecido,
colaborava com o então vereador Marcello Siciliano.
Ele foi morto por dois homens que vinham
numa motocicleta. Segundo uma testemunha, antes de atirar, um deles teria dito:
“Chega para lá que a gente tem que calar a boca dele”.
Acusado de ter envolvimento na morte de
Marielle, Siciliano insistiu em dizer que nada tinha a ver com o caso. À época,
havia abundância de pistas falsas. Ele submergiu e voltou para a vitrine em
maio, metido com o oficial da reserva Ailton Barros, que tratava com o
tenente-coronel Mauro Cid no episódio de falsificação de certificados de
vacinas. Ailton Barros disse numa conversa grampeada:
“Eu sei dessa história da Marielle toda,
irmão, sei quem mandou. Sei a porra toda. Entendeu? (Siciliano) Está de bucha
nessa parada aí.”
Tem gente sabendo demais quando fala e de
menos quando é chamada a se explicar.
Barroso no STF
Em setembro, o ministro Luís Roberto
Barroso assumirá a presidência do Supremo Tribunal Federal com agenda cheia.
No Conselho Nacional de Justiça ele quer
buscar uma forma de dar racionalidade e rapidez aos litígios que envolvem a
Previdência Social. Segundo a Advocacia-Geral da União, são ajuizadas dez mil
ações por dia contra os entes federais.
Noutra ponta, ele quer abrir a discussão
sobre os vencimentos dos juízes federais. Como essa categoria não tem os
penduricalhos que mimam os tribunais estaduais, a carreira está sendo drenada.
Nem tanto pela quantidade, mas pela qualidade dos interessados.
MP onipotente
O Ministério Público de São Paulo cortou na
rede a bola de uma maracutaia fantasiada de empreendimento imobiliário, na
valorizada área do Itaim Bibi. A incorporadora São José construiu um edifício
de 23 andares com 20 apartamentos, cada um com mais de 380 metros quadrados.
O empreendimento foi anunciado oito meses
antes da entrada do pedido de edificação à prefeitura e a construção começou
sem que houvesse a necessária licença, negada por três vezes.
O edifício está em fase final de
acabamento, e o MP, com toda razão, pleiteia uma indenização a ser paga. Pede
R$ 500 milhões, e um juiz deverá decidir se essa quantia está exagerada.
A coisa não para aí. O MP e também a
prefeitura, cuja fiscalização não viu o aparecimento de um prédio de 23
andares, querem também que o edifício seja demolido. Um não fiscaliza o que
deve, e o outro acha que pode tudo.
Os promotores de Curitiba também achavam.
Faz tempo, o governador carioca Carlos
Lacerda se apossou de um edifício de Botafogo erguido em condições parecidas e
instalou nele uma instituição de ensino.
Eizo Nomura escapou da bomba
No dia de hoje, há 78 anos, o japonês Eizo
Nomura estava trabalhando no prédio da prefeitura de Hiroshima que cuidava do
racionamento de combustível. A coisa ia mal no Japão, e o imperador tratava da
transferência de seus tesouros sagrados para um lugar seguro.
Numa ilha do Pacífico, a bomba foi equipada
com seus últimos mecanismos.
Domingo que vem completam-se 78 anos da
manhã em que Nomura chegou ao serviço e o coronel Paul Tibbets avisou aos
tripulantes de seu bombardeiro: “Nós estamos carregando a primeira bomba
atômica do mundo”.
Às 8h16m ela explodiu no ar, a 600 metros
de altura. Seu epicentro estava a 170 metros do prédio em que Nomura
trabalhava, com outras 37 pessoas. Como o edifício era de concreto, oito
livraram-se do flash que queimou milhares de pessoas. Apesar disso, ele foi o
único que sobreviveu, sem sequelas. Morreu em 1982, aos 84 anos.
Nomura teve várias sortes. Estava num prédio de concreto, quando a maioria das casas da cidade eram de madeira, saiu num sentido que o afastou da radiação e, pelo que contava em 1975, acima de tudo porque foi para longe da cidade.
■Todo e qualquer planejamento de políticas no Brasil só pode começar pelo IBGE!
ResponderExcluir▪Na política de qualquer país é assim, tudo começa pela instituição que pesquisa sua geografia humana.
No Brasil, tudo começa pelo IBGE!
O IBGE é mais importante que o Ministério da Fazenda, o IBGE é mais importante que o Ministério do Planejamento, é mais importante que o Banco Central, é mais importante que o Ministério da Educação, da Saúde, das Forças Armadas... O IBGE é mais importante que tudo!
Em tudo que diz respeito à solução de necessidades humanas, a melhor política é a que aplica o conhecimento e a técnica a partir da realidade pesquisada e interpretada. É nessa interpretação da realidade que pode se dar o início da solução ou o fracasso de uma política econômica e social. Se a orientação adotada for a de fazer uma interpretação racional e técnica da realidade, este é um bom início para a solução das necessidades da sociedade ; se a orientação for a de fazer uma interpretação da realidade contaminada pelas crenças do ideologismo, isso já é meio caminho andado para o fracasso.
Nós vivenciamos uma ilustração disso aqui no Brasil em período recente, quando crescentemente aplicaram soluções baseadas em crenças e em preferências particulares, e deu no pandemônio econômico que sabemos, a inflação chegou perto de 15%, o desemprego aberto perto de 11%, deu em muita perda de receita e em muito desinvestimento e em aceleração da desindustrialização, e tudo apontando para o alto ; por final, deu no fortalecimento eleitoral e na eleição de Jair Bolsonaro.
Muitos de nós deplora aquele caminho adotado entre 2007 e 2016 e teme que ele seja repetido quanto mais vemos o aparelho de Estado ser ocupado por critério ideológico e por negacionismo da razão, da técnica e da história de nosso sistema econômico e inspirado por soluções ideológicas artificiais, baseadas nas crenças e preferências de grupos políticos exóticos ao nosso sistema econômico e regime político e nos arrepia vermos repetidamente o presidente Lula alinhando posições ideológicas e fazendo declarações de apoio, defesa de interesses e prestando solidariedade a ditaduras e fazendo declarações ofensivas aos países democráticos.
Foi um deboche ao Brasil a indicação por Bolsonaro de Sérgio Camargo para a presidência da Fundação Palmares e todos os brasileiros que rejeitamos escolhas ideológicas para o aparelho do Estado reagimos àquela deboche ; a cada indicação de Bolsonaro inspirada por ideologismo, nós todos que não combinamos com isso, imprensa profissional à frente, repudiamos barulhentamente as escolhas de Bolsonaro baseadas em sua ideologia particular.
Agora se dá o mesmo com a indicação de Márcio Pochmann para ser presidente do IBGE e nós, adeptos da racionalidade e da técnica e alérgicos a ideologismos, reagimos a este deboche.
Lula e Bolsonaro, lulistas e bolsonaristas: levem seus ideologismos para usarem no banheiro e tenham muitos orgasmos, mas deixem o Brasil limpo dos restos dos seus prazeres.
Os bolsonaristas são bem mais violentos que os lulistas.
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