O Estado de S. Paulo
Presidente se beneficiou da sujeira tucana e bolsonarista
Aécio Neves havia perdido para Dilma
Rousseff a eleição de 2014 quando os escândalos do tucano vieram à tona, mas
seu amigo Gilmar Mendes, até então o mais poderoso dos lavajatistas, voltou-se
contra a força-tarefa que antes legitimava, seja apontando a cleptocracia em
curso, seja anulando a posse de Lula na Casa Civil. “O nosso causídico é foda”,
celebrou o também tucano Aloysio Nunes quando o ministro do STF tomou decisão
favorável a Paulo Preto, apontado como operador do PSDB. Em uma série de
processos, Aécio foi igualmente salvo pelo “nosso causídico”.
Jair Bolsonaro, ao contrário, havia acabado de vencer Fernando Haddad em 2018 quando o funcionalismo fantasma de sua família veio à tona, o que levou o então presidente a trair o discurso de campanha, sancionando medidas desejadas pelo PT, como a criação do juiz de garantias – ou “emenda Freixo” – e outros jabutis inseridos no pacote anticrime, como restrições à prisão preventiva e à delação premiada.
No poder, Bolsonaro sabotou a CPI da Lava
Toga, interferiu na PF e escolheu autoridades anti-Lava Jato para PGR (Augusto
Aras) e tribunais superiores, como Kassio Nunes Marques. Graças ao voto dele,
Gilmar conseguiu arquivar o inquérito sobre repasses da Odebrecht a Aécio e,
graças ao voto de Gilmar, Nunes Marques conseguiu blindar Flávio Bolsonaro com
foro privilegiado retroativo. Ambos também arquivaram casos de Arthur Lira e
Ciro Nogueira, que chamava seu conterrâneo de “nosso Kassio”. O ministro ainda
foi um dos três indicados por Bolsonaro que votaram no TSE pela cassação de
Deltan Dallagnol, contornando a alínea “q” do inciso 1.º do artigo 1.º da Lei
Complementar 64, a mesma LC usada para declarar o expresidente inelegível,
desta vez com previsão expressa no inciso 16 do artigo 22, quando seus outros
indicados, Sérgio Banhos e Carlos Horbach, já haviam deixado a Corte.
Bolsonaristas votaram com petistas pela
blindagem coletiva, como no afrouxamento da Lei de Improbidade, evocado pela
defesa de Bolsonaro no processo sobre Wal do Açaí, sua caseira fluminense
registrada por 15 anos como assessora parlamentar em Brasília.
Lula se beneficiou da sujeira tucana e
bolsonarista, porque ela neutralizou o ponto mais sensível do PT: a corrupção.
Ao sabotar a vacinação na pandemia e trocar o combate à cleptocracia por
fantasias sobre as urnas, sempre amparado por seus “influenciadores”
diversionistas, Bolsonaro foi além, como o maior cabo eleitoral de Lula.
Sua inelegibilidade abre espaço para uma oposição de verdade.
Pode ser.
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