O Estado de S. Paulo
Lula vem agindo e negociando. Cede em muitos pontos, tenta resistir em outros e, assim, começa a contabilizar vitórias
Não terão sido poucos os que se
surpreenderam com um título publicado há uma semana no caderno Economia &Negócios
do Estadão. “Especialistas veem novo ciclo econômico”, informava o jornal. A
aprovação da reforma tributária em dois turnos na Câmara dos Deputados (ainda
falta a aprovação do Senado) poderá atrair mais investimentos e melhorar a
produtividade, explicava em seguida. Surgem com mais frequência notícias sobre
reativação da economia e redução da inflação. Vitórias do governo no Congresso
Nacional, de sua parte, amenizam a sensação de risco à governabilidade.
Há os que não creem em informações desse tipo, pois estão convencidos de que não há salvação fora das fantasias disseminadas pelo governo anterior. Para estes, não haverá futuro sem o bolsonarismo e seus ludibrios.
Outros não acreditam em melhora econômica
sob o governo Lula. Há casos notórios dessa forma de pensar. Imaginava-se que o
mercado financeiro fosse povoado apenas por inimigos de Lula. Pesquisas mais
recentes indicam, porém, que, mesmo neste ambiente tão hostil ao governo,
cresce, muito lentamente, o número dos que veem alguma mudança. Já não são
apenas as duas pessoas constatadas em pesquisa anterior.
Há, também, os que até admitem mudanças
positivas, mas não veem nisso nenhum mérito do governo. Atribuem a aprovação da
reforma tributária à barganha política a que o Executivo se entregou de maneira
intensa. Veem nessa prática sinais de rendição do governo às forças dominantes
no Congresso; ou simplesmente a interpretam como uma troca envolvendo alguma
forma de corrupção. Já eventuais êxitos no plano econômico não passam de sorte
de um governo e de um grupo político que só conseguem alcançar o poder, e
mantê-lo, em razão de circunstâncias fortuitas além de sua competência.
Algum tanto de barganha e outro de sorte
podem ter contribuído para a montagem de um cenário menos ruim. Mas seria
simplificação primária reduzir tudo a esses fatores e a suas aparências mais
condenáveis. Seria também macular eventuais resultados positivos com a suspeita
de ilegitimidade ou de imponderabilidade.
É preciso, em primeiro lugar, entender que
negociação entre Executivo e Legislativo é da essência da prática democrática.
Embora parte dos eleitores possa considerar reprovável, a distribuição de
emendas parlamentares pelo Executivo, para o atendimento de indicações de
congressistas, é normal no relacionamento entre os dois Poderes num regime
democrático, como mostrou editorial deste jornal publicado no dia 12/7. Um
governo sem maioria firme no Congresso não pode prescindir desse tipo de
negociação. Por óbvio, essa prática deve ser transparente e resultar em
benefícios coletivos.
Em segundo lugar, a evolução de alguns dos
principais indicadores econômicos – que os críticos do governo de Lula atribuem
apenas à sorte, como a que, alegam, abençoou gestões anteriores do PT –
confirma tendência que já se observava no final do governo anterior.
O crescimento da economia no primeiro
trimestre do ano é suficiente para, mesmo que não haja aumento nos trimestres
seguintes, o PIB brasileiro se expandir mais de 2% em 2023. É provável que o
aumento seja maior. Quanto aos preços, com a deflação de 0,08% em junho, a alta
média acumulada em 12 meses ficou em 3,16% – abaixo, portanto, da meta fixada
para o ano, de 3,25%. Não parece restar mais argumento de natureza técnica para
o Comitê de Política Monetária do Banco Central retardar o início da queda do
juro básico, que deve, assim, ser aprovada em sua reunião de 1.º e 2 de agosto.
Se este governo tem sorte, o anterior
também teve, e muita. Apesar da gestão temerária do governo Bolsonaro em todos
os campos, o PIB cresceu 2,9% no ano passado. E a inflação ficou em 5,79%. São
números muito melhores do que os projetados no início de 2022.
O governo demorou para mostrar disposição e
competência para negociar, o que sugeria perda de sagacidade e habilidade
política do presidente Lula. Mesmo tendo cometido erros tanto no plano interno
como no externo, exagerado em certas declarações, demonstrado apatia em algumas
situações, Lula vem agindo e negociando. Cede em muitos pontos, tenta resistir
em outros – não pode ceder a aliados de ocasião ministérios vitais para o êxito
de seu governo na área social, como o da Saúde – e, assim, começa a
contabilizar vitórias, das quais a aprovação da reforma tributária pela Câmara
é a mais exuberante.
O desanuviamento do ambiente político se
estende para o econômico, em que resistências persistem, mas já abrem espaço
para a aceitação, com as restrições previsíveis, de propostas e programas do
governo. Avanços mais notáveis estavam circunscritos à área social, de especial
interesse das administrações petistas. Agora, chegam às negociações políticas e
à economia. Os impactos das ações do governo tenderão a ser bem mais amplos do
que têm sido. •
*JORNALISTA, É AUTOR, ENTRE OUTROS, DO
LIVRO ‘O SÚDITO (BANZAI, MASSATERU!)’ (EDITORA TERCEIRO NOME) E PRESIDENTE DO
CENTRO DE ESTUDOS NIPO-BRASILEIROS (JINMONKEN)
E ainda falta falar do combate ao garimpo ilegal, ao desmatamento na Amazônia e no Cerrado, à política externa. , às políticas sociais, etc.,etc. Avante companheiro Presidente, um verdadeiro Estadista que recolocou o Brasil como protagonista nas relações internacionais, convocando todos na defesa dos Direitos Humanos, das Liberdades Democráticas e a um Pacto pela Paz.
ResponderExcluirO presidente Lula é apoiador de vários países com regimes antiprogressistas desde seus mandatos anteriores como presidente da república, regimes estes em que o desrespeito aos direitos humanos é POLÍTICA OFICIAL.
ExcluirA partir do atual mandato, Lula, mais que apoiar regimes cujo desrespeito aos direitos humanos é politica oficial, passou a ofender paises de regimes democráticos.
Estes abusos de Lula à democracia levaram o jornal "Liberation", ligado a grupos à esquerda da França, a ocupar metade da capa com a manchete em letras gritadas::
▪"Lula não é amigo da Europa!"
EVOÉ!
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