De uma economia agroexportadora, ancorada na cafeicultura, migramos celeremente, em 50 anos, para uma sociedade urbana-industrial de economia diversificada. Todos os instrumentos – fiscais, cambiais, creditícios, monetários, de comércio exterior – foram acionados e se somaram aos investimentos públicos, do governo e de empresas estatais, e do empresariado nacional e estrangeiro, em nome da superação do atraso e de garantir um lugar ao Brasil entre as grande potências do Século XXI.
Em 1979 e 1980, vieram o choque do
petróleo, a crise da dívida externa e o processo inflacionário crônico. As
bases do desenvolvimento das décadas anteriores foram corroídas. De 1980 a
2022, nossa taxa média de crescimento foi de 2,3% ao ano contra os 7% dos
cinquenta anos anteriores. Neste período, a economia mundial cresceu anualmente
à média de 3,4%. Fomos somente a 92ª. maior média de crescimento entre 135
países acompanhados pelo FMI. Em 1980, o PIB brasileiro representava 4,3% de
toda a produção de bens e serviços mundial. Em 2002, apenas 2,3%. O milagre
brasileiro se esvaiu e, tudo indica, perdemos o “bonde da História”.
Ainda que devamos evitar comparações
genéricas entre países já que cada um deles têm suas singularidades históricas
e características peculiares, e considerar que o PIB não seja isoladamente um
indicador definitivo para julgar o estágio de desenvolvimento social de uma
Nação, é inevitável algum nível de paralelo entre diferentes trajetórias.
Tomemos Chile e Coréia do Sul. O Brasil, em 1980, tinha o PIB por habitante
maior que o da Coréia do Sul e pouco menor que o do Chile. Na entrada dos anos
20 do século XXI, o Chile tem um PIB per capita mais que duas vezes maior que o
brasileiro e a Coréia do Sul, quatro e meia vezes maior.
Contra fatos, números, estatísticas, evidências
não há argumentos que parem de pé. Para além das paixões políticas e
ideológicas, é preciso abrir corações e mentes e responder as perguntas
essenciais: onde perdemos o fio da meada? Quais foram as escolhas equivocadas e
os erros cometidos?
Esta reflexão é essencial se queremos
projetar um outro horizonte para as gerações futuras de nosso país.
Incrivelmente, nosso processo político decisório, às vezes, parece desconhecer
a realidade das quatro últimas décadas. A sociedade também se vê anestesiada
diante da urgência de uma mudança de rumo. Nos comportamos como tudo estivesse
bem e que o sucesso é a marca de nossa trajetória recente.
Na próxima semana, vamos discutir algumas
hipóteses sobre o descarrilhamento de nosso desenvolvimento vigoroso e dinâmico
entre 1930 e 1980. A primeira atitude para combater uma doença é sempre o
diagnóstico correto.
*Economista
Um belo artigo sobre economia.
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