O Globo
Lula tem falado de maneira consistente e
persistente de questões estratégicas, e está em curso no governo uma agenda de
controlar o desmatamento
O Brasil vive “momento especial de ouro”,
repete o presidente Lula, convencido de que a questão climática não é mais um
tema do futuro, mas é “agora que está acontecendo”. Esse estado de espírito
otimista, explicitado na reunião da América Latina com a União Europeia que
termina hoje em Bruxelas, tem base em dados que ainda serão divulgados
oficialmente. Eles apontam uma queda consistente do desmatamento na Amazônia de
33,6% nos seis primeiros meses do ano, e neste mês a queda será altamente
consistente, um mês em que o desmatamento deveria estar no pico, como antecipam
membros do governo.
Lula, que antecipou esses números em Bruxelas, considera extremamente importante o encontro porque pode ajudar a concluir o acordo tão sonhado com a União Europeia. Nos encontros em Bruxelas, ele reiterou que o país não abre mão das compras governamentais, que vê como oportunidade para pequenos e médios empreendedores brasileiros. O acordo entre a União Europeia e o Mercosul deve sair até o fim do ano.
— Se no governo Bolsonaro o acordo ia ser
feito, por que não seria agora? — pergunta a ministra do Meio Ambiente, Marina
Silva.
Lula disse em Bruxelas que a transição
climática passou a ser prioridade no seu governo, e, de fato, nas suas recentes
declarações, como no discurso na cerimônia de entrega das medalhas do Mérito
Científico, ele dá a impressão de que caiu a ficha de que é a política
ambiental do Brasil que poderá fazê-lo protagonista na cena internacional, e
não a tentativa de negociar a paz na Ucrânia.
Houve uma mudança na abordagem, Lula tem
falado de maneira consistente e persistente de questões estratégicas, e está em
curso no governo uma agenda de controlar o desmatamento, proteger os povos
originários, a transição ecológica comandada pelo Ministério da Fazenda de Haddad,
a reindustrialização verde pelo Ministério da Indústria do vice-presidente
Alckmin.
O presidente está dando muita importância à
reunião em Belém, em agosto, dos oito países que fazem parte da Organização do
Tratado de Cooperação Amazônica, que nunca se reuniu em 45 anos de criação, uma
ocasião para que uma cúpula amazônica pense a região não mais como uma questão
isolada de cada país. Até a França será convidada, devido à Guiana, uma maneira
de incluí-la no rol dos países amazônicos, pois “é o único país europeu que tem
fronteira com o Brasil e a América Latina”, ironiza Lula.
Na mesma capital do Pará haverá em 2025 a
Conferência Global do Clima. Lula diz que quer que os estrangeiros venham
discutir a Amazônia dentro dela, vamos trazer essa gente “para ser mordida por
carapanãs”, denominação do tupi para pernilongo. O governo está convencido de
que, quando usarmos nosso potencial eólico e solar, poderemos nos transformar
em potência mundial do hidrogênio verde. A retomada de nossa indústria em novas
bases, mais limpa e com baixa emissão de carbono, é o objetivo.
O Brasil presidirá no ano que vem tanto o
Brics quanto o G20, composto dos países mais ricos do mundo, responsáveis por
86% das emissões do planeta, o que está sendo visto como um momento estratégico.
Por isso, o programa de transição ecológica transversal, passando por vários
ministérios, está sendo coordenado pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad.
Está sendo formatado também um Plano Safra para a agricultura de baixo carbono.
“Ações estratégicas que, se levadas de
maneira estrutural e continuada, podem, ao final de quatro anos, criar as bases
para o Brasil se tornar um país exportador de sustentabilidade”, um mantra da
ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, que o governo incorporou como meta. Se
todas essas agendas forem tratadas de forma continuada, Marina vê a
possibilidade de termos uma mudança de chave na posição do Brasil nos novos
ciclos de prosperidade econômica que estão se desenhando pelo mundo:
— O Brasil vai ter a chance de não ficar
trancado do lado de fora. Muito pelo contrário, será a própria chave para a
abertura desse novo portal de oportunidades para a humanidade.
Na torcida.
ResponderExcluir