O Globo
Lula pode fazer troca-troca de ministros
“Quem
oferece o ministério é o presidente, não é o partido que escolhe o ministério”.
Com os ataques especulativos do Centrão ao seu ministério, especialmente aos
que têm um caixa reforçado, como a Saúde, o presidente Lula foi obrigado a
colocar limites nessa gulodice dos partidos que querem aderir ao governo, mas
estão mesmo de olho nas verbas, não nas linhas gerais do programa petista.
Interessante acompanhar como será feita a
reformulação do ministério – que vai ser feita, já está decidido. A frase que
abre o texto, dita por Lula em Bruxelas, é muito esclarecedora, e dá esperanças
de que a adesão de partidos que não estavam na aliança eleitoral que levou Lula
à presidência será orientada pelo próprio governo, e não por interesses
particulares de grupos políticos que buscam o governo devido às verbas, e não
ao verbo que define o objetivo eleito.
Isso é fundamental, porque, se for cumprido, o governo se define pelos ministérios intocáveis; Saúde, Educação, Bolsa Família. São intocáveis não porque a substituição seja delicada, mas porque foram entregues a pessoas que entendem do assunto ou estão conectadas com o espírito do governo eleito.
A assessoria pessoal do presidente, como o
ministério de Relações Institucionais, a Chefia do Gabinete Civil, e outros
ministérios estratégicos como o das Relações Exteriores, o da Justiça, o da
Defesa, o da Fazenda, também não seriam jogados na mesa de negociação.
O ministério do Planejamento, ocupado por
Simone Tebet, também não entraria nessa barganha. Porque Tebet é um dos poucos
sinais de um governo de centro democrático que Lula tanto prometeu, assim como
a equipe econômica precisa de estabilidade para continuar trabalhando. Além do
mais, é uma mulher. Já há um incômodo entre as mulheres porque a voracidade do
Centrão mira ministérios e autarquias dirigidas por mulheres: Caixa Econômica,
Saúde, Esportes, Ciência e Tecnologia.
Lula pode entregar a partidos como PP ,
Republicanos, ou União Brasil, ministérios que, embora tenham importância, não
definem a linha governista. Pode dar um ministério que não seja tão fundamental
para um partido do Centrão. Fernando Henrique fez isso em alguns momentos, deu
a Justiça para Renan Calheiros, por exemplo, mas tirou de lá a negociação
política. Se Lula usar o critério de dar o ministério que o presidente da
Câmara Arthur Lira quiser, ou que tem um caixa grande, é ruim, mas preservar a
espinha estrutural do ministério e ceder espaços em outros ministérios com
importância relativa, pode ser feito.
Tenho a impressão de que Lula está pensando
em fazer uma dança das cadeiras - tirar um ministro de um lugar e colocar em
outro, abrindo espaço para o Centrão. Pode ser que o PSB entre nessa história.
Se o vice-presidente Geraldo Alckmin sair do Ministério da Indústria e
Comércio, abre vaga para um ministro do PSB como Márcio França, atual ministro
dos Portos e Aeroportos, ser trocado por uma indicação do Centrão. Acho que
pode acontecer esse tipo de coisa, mas certamente haverá reclamação do próprio
PT, do PSB, do PC do B, que formam a base esquerdista do governo.
A ministra da Ciência, Tecnologia, e
Inovação, do PC do B, está sendo cogitada para a pasta dos Direitos Humanos e
Cidadania, ocupada hoje por Silvio Almeida, um filósofo e professor muito
conceituado, que está no ministério sem ter o apoio de nenhum partido político,
apenas pela qualidade de sua atuação pública. O cargo poderia ser ocupado por
algum indicado do Centrão, mas o substituto teria que ter a qualificação e o
engajamento de Almeida, o que será difícil encontrar dentro dos partidos que
cobiçam o ministério. Além do mais, a pasta vive mais da retórica e da atuação
do ministro atual do que da verba orçamentária. Silvio de Almeida, em caso
positivo, seria indicado para um cargo do governo no exterior, onde se formou.
Certamente Lula vai ter que ter cuidado com
sua base mais próxima, porque não pode abrir mão dela e não pode desfigurar seu
governo. Mas ninguém vai romper por causa disso.
Vejamos.
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