Folha de S. Paulo
Sepúlveda Pertence jamais se omitiu face às
ameaças à democracia e ao Estado de Direito
José
Paulo Sepúlveda Pertence foi um dos mais importantes juristas públicos
de sua geração. Ao longo de uma intensa vida dedicada à República, jamais se
omitiu face às ameaças à democracia e
ao Estado de Direito.
Sepúlveda Pertence chegou a Brasília em
1961, acompanhado de outros colegas de faculdade, com o objetivo de construir
uma carreira jurídica na nova capital. Embora alegue que tenha se dedicado mais
à política que aos estudos durante os anos de formação — tendo sido eleito
vice-presidente da UNE —, recebeu o prêmio de melhor aluno de sua turma na
UFMG.
O ministro Victor Nunes Leal rapidamente percebeu o talento do jovem advogado que sustentava na tribuna do Supremo, convidando-o para compor o quadro de professores auxiliares da recém-criada Universidade de Brasília, da qual Pertence seria afastado em 1965, em decorrência do AI-2. Sepúlveda Pertence também foi nesse período "secretário jurídico" do ministro Evandro Lins e Silva. Como seus tutores Evandro Lins e Victor Nunes, teve sua carreira pública interrompida por força do AI-5, em 1969. Ao lado deste último e de diversos amigos de geração, como Pedro Gordilho, Sepúlveda Pertence assumiu então uma corajosa advocacia, nos anos de chumbo, que incluiu a defesa de inúmeros dissidentes e perseguidos políticos.
Como advogado e vice-presidente da OAB
participou intensamente do processo de transição para a democracia. Em 1985,
foi nomeado para o cargo de procurador-geral da República e, em 1989, assumiu
uma cadeira no Supremo
Tribunal Federal. Ao lado de Paulo Brossard e Celso de Mello,
transformou-se na principal voz dentro da corte no difícil processo de
implementação da ambiciosa Constituição
de 1988.
Sua inteligência e compromisso com os
valores constitucionais e democráticos produziram debates antológicos,
especialmente com o ministro Moreira Alves, que iluminam até hoje o pensamento
jurídico nacional. Sua liderança contribuiu para uma profunda mudança no perfil
do tribunal, que deixou de ser uma instância deferente e mesmo submissa aos
demais poderes, passando a exercer o papel de uma autêntica Corte Constitucional.
Embora não tenha tido nenhuma proximidade
pessoal com Sepúlveda Pertence, tive o privilégio de entrevistá-lo inúmeras
vezes, desde os anos 1990. Desses encontros destaco três preocupações
recorrentes do ministro com o Supremo, além de sua enorme generosidade com o
então jovem pesquisador.
A primeira delas se referia ao fato de o
tribunal funcionar mais como um "arquipélago formado por 11 ilhas
isoladas" do que como um órgão colegiado, capaz de produzir decisões a
partir de um rigoroso processo deliberativo em plenário.
Uma segunda preocupação era com a crescente
tendência de alguns ministros de tomarem as consequências econômicas e
financeiras como razão primária para suas decisões. Embora "consciente e
angustiado pelas consequências", dizia: "Nunca votei em função
exclusivamente das consequências alegadas" ("História Oral do
Supremo", FGV).
Pertence nutria, ainda, uma profunda
preocupação com a legitimidade do Tribunal. Embora sempre tenha sido um
ministro vocal e aberto à imprensa, se reservava a falar apenas de
"questões institucionais". Também se preocupava com a nomeação de
ministros sem lastro reputacional. O que teriam a perder?
O Supremo altivo que Sepúlveda Pertence
inspirou teve uma enorme importância na defesa da democracia nos últimos anos.
Para que a autoridade do tribunal esteja sempre à disposição de nossa
democracia constitucional, não podemos ignorar suas preocupações.
*Professor da FGV Direito SP, mestre em
direito pela Universidade Columbia (EUA) e doutor em ciência política pela USP.
Autor de "Constituição e sua Reserva de Justiça" (Martins Fontes,
2023)
https://youtu.be/da_U08dGKXM
ResponderExcluirhttps://rumble.com/v2zwmri-lula-prejudica-so-paulo-com-reforma-tributria.html
■Penso que não devemos implicar Lula de forma negativa em relação à Reforma Tributária.
ResponderExcluir▪Se o projeto de Reforma Tributária é antigo, tem mais de trinta anos que está sendo discutido e formulado por todas as forças políticas e demais setores;
▪Se Lula nada fez para que a Reforma Tributária fosse viabilizado, nem antes e nem agora::
=>Se não podemos dar nenhum crédito positivo especificamente a Lula pela Reforma Tributária, por ele nunca ter se envolvido com a reforma, também não temos o direito de dar a Lula qualquer crédito negativo em relação a esta mesma reforma.