Folha de S. Paulo
São Paulo, Bahia e Rio lideram campeonato
da brutalidade em favelas
Um timing perfeito, tão sincronizado que
parece coisa ensaiada e pensada nos mínimos detalhes. Depois da operação
na Baixada Santista, que deixou pelo menos 16 mortos, deputados
da bancada da bala na Alesp cobraram a retirada das câmeras dos uniformes de
policiais militares em São Paulo. Nem precisavam cobrar. Desde a campanha
eleitoral Tarcísio de Freitas tem se mostrado a favor da medida
linha-dura. O governador resiste ao aumento gradual do número de câmaras (são
pouco mais de 10 mil para uma corporação com cerca de 80 mil policiais).
A estatística revela queda nas mortes de policiais e de suspeitos após a implementação do Programa Olho Vivo. Os dados derrubam a tese terraplanista de que o crime organizado se aproveita do equipamento para identificar e atacar PMs.
Tido como um quadro técnico do
bolsonarismo, Tarcísio classifica as mortes como "efeito colateral". Especialistas em
segurança sugerem indícios de chacina, ordenada em resposta ao assassinato de
um soldado da Rota. Moradores denunciaram torturas e homicídios. A promessa do
MP e da Ouvidoria de investigar o excesso de força no Guarujá esbarra em
algumas perguntas. Há imagens da operação? Quantas equipes da PM portavam
câmeras? Elas estavam ligadas?
Combater a criminalidade espetacularmente,
com fuzil na mão e sangue nos olhos, cala fundo na cabeça do cidadão que não
mora na favela, mas se sente indefeso do mesmo jeito. No Brasil não há como
repetir a estratégia do ditador Nayib Bukele, que lotou as cadeias de El
Salvador e aumentou sua popularidade. Com cerca de 800 mil presos, o país já tem hoje a maior população
carcerária da história. Matar é mais fácil e mais barato, e se obtém igual
objetivo: votos.
A matança não é exclusividade de São Paulo.
Bahia e Rio registraram cerca de 30 vítimas em recentes investidas de suas
polícias. Virou moda. Uma moda macabra que não sai de cena.
Infelizmente!
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