terça-feira, 22 de agosto de 2023

Assis Moreira - Brasil prevê exportações de US$ 90 bi para a China, apesar da crise

Valor Econômico

Brasília monitora também eventual aumento de importações vindas da China, no rastro da desaceleração

O presidente da China, Xi Jinping, desembarca em Joanesburgo para a cúpula do Brics no rastro de um acúmulo de indicadores econômicos em declínio no país nas últimas semanas, que elevam significativamente os riscos para nações em torno do mundo.

O presidente Lula tem razões para estar atento: nada menos de 30% do que o Brasil exportou entre janeiro e julho foi para o mercado chinês, ilustrando o tamanho da exposição ao país asiático.

As notícias ruins na segunda maior economia do mundo começaram com uma mudança de expectativa em torno de expansão robusta, após a suspensão da política de zero covid, por temores de desaceleração severa. As vendas no varejo, a produção industrial e o investimento em ativos fixos cresceram em ritmo mais lento em julho do que no mês anterior. O desemprego entre os jovens atingiu um recorde de 21,3%. Os preços de bom número de produtos caíram e entraram em território deflacionista, prenúncio de menor atividade comercial.

As exportações caíram pelo terceiro mês consecutivo (-14,5% só em julho) e as importações declinaram pelo quinto mês, em outra sinalização de enfraquecimento. Além disso, falências no enorme setor imobiliário, que normalmente impulsiona um quarto da atividade econômica, alimentam a preocupação com contágio para o setor financeiro.

Apesar dessa situação de crise econômica, no governo brasileiro a projeção é de que as exportações continuarão expressivas para seu principal parceiro comercial.

A secretária de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Tatiana Prazeres, destaca dois pontos. De um lado, a desaceleração chinesa na China é ponto de atenção para o comercio exterior do Brasil, afinal o mercado chinês é destino de quase um terço do que o país exporta.

De outro lado, ‘há um risco dessas análises colapsistas dominarem o noticiário. Estamos falando de desaceleração na segunda maior economia do mundo, mas que é uma desaceleração para 5%. A China continua puxando o crescimento mundial’. Ou seja, 5% de crescimento chinês é 'muito importante e positivo'' para o Brasil.

Entre janeiro e julho, as exportações brasileiras para a China cresceram 6,9%, puxadas pelas quantidades embarcadas, e somaram US$ 58,7 bilhões. Em comparação, o aumento médio global das exportações foi de 0,2% no mesmo período.

Para o segundo semestre, as perspectivas variam de acordo com a commodity para o mercado chinês. A renda do consumidor chinês não cresce como vinha crescendo e há uma alteração na demanda.

A situação é mais positiva para as commodities alimentares, como milho, carnes de aves, suínos, e para celulose.

Já exportações de commodities como minério de ferro e petróleo podem ser afetadas. Mas a secretária de Comércio Exterior do Mdic estima que em quantidade a exportação de minério de ferro brasileiro continuará bem, graças a sua qualidade (teor de ferro) em relação aos concorrentes.

Nesse cenário, a projeção do governo brasileiro é de que o país poderá fechar o ano com exportações de US$ 90 bilhões para a China, ou 27% de exportações totais de US$ 330 bilhões (US$ 335 bilhões em 2022). A projeção de venda para o mercado chinês é assim de valor idêntico ao do ano passado.

‘Esse é um resultado notável, sobretudo diante da queda de preços das principais commodities (neste ano)’, argumenta Tatiana Prazeres.

A baixa de preços foi de 25% nas exportações de petróleo, de 16% nas vendas de minério de ferro e de 9,6% nas vendas de soja, no acumulado de janeiro a julho.

Com a mudança de patamar do crescimento da economia chinesa, dois pontos estão no radar. De um lado, em tese, a China poderia aumentar investimentos no exterior, para compensar a perda de dinamismo doméstico e diversificar.

De outro lado, se o mercado doméstico tem menos capacidade de absorver bens produzidos no país, suas empresas podem ser ainda mais agressivas para compensar essa situação com vendas no mercado externo turbinadas com subsídios e também com dumping (preços abaixo do valor cobrado pela empresa exportadora em seu mercado doméstico).

Daí o monitoramento sobre eventuais impactos de maior importação procedente da China. Setores siderúrgico e químico no Brasil são especialmente sensíveis a essa situação.

Entre alguns economistas de organizações internacionais, a percepção é também de que há exagero sobre a situação atual da China. Notam que as autoridades chinesas tomaram algumas medidas, mesmo modestas, para reavivar o crescimento, incluindo o corte das taxas de juros, e prometeram fazer mais se as condições piorarem.

As autoridades de Pequim têm os meios de impedir que a crise imobiliária se torne crise financeira, na avaliação de diferentes analistas. E o governo central tem margem de manobra para absorver a dívida de governos locais e restruturar seus ativos duvidosos.

A vulnerabilidade do Brasil ao cenário chinês é clara, mas esses economistas notam que, no geral, a Europa também é preocupante. Vários países estão em situação fragilizada e não se sabe quando as taxas de juros deixarão de subir, enquanto na China a política é expansionista.

De fato, as exportações brasileiras para a Europa declinaram 9,4% no acumulado do ano. Para a Espanha, as vendas chegaram a -23,6% comparado ao mesmo período do ano passado. Para Portugal, --19,3%, para a Itália -10,6%, para a França -10,3, para a Alemanha – 7,8%, para a Bélgica – 29,3%, para a Finlândia – 32,2%.

 

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