O Globo
Nas democracias mais funcionais, as
eleições dividem os políticos em dois grupos. Quem ganha vai para o governo.
Quem perde vai para a oposição. No Brasil, a regra é diferente. Quando as urnas
se fecham, os derrotados entram na fila para aderir aos vencedores. Ninguém
quer ficar fora da distribuição de cargos.
No ano passado, o Centrão pediu votos para Jair Bolsonaro. A fidelidade ao capitão durou até a noite do segundo turno. Parte da tropa desertou entre a eleição e a posse. Agora é a vez dos retardatários, comandados pelo deputado Arthur Lira.
O chefão da Câmara passou o primeiro
semestre com a faca no pescoço de Lula. Após o recesso de julho, começa a
colher os frutos da pressão. Ontem ele desfilou no Planalto como padrinho do
novo ministro do Turismo, Celso Sabino. Até o fim do mês, deve emplacar mais
dois aliados na Esplanada.
A posse de Sabino marca o embarque oficial
do Centrão no governo. O ministro é filiado ao União Brasil, mas chegou ao
cargo como representante de Lira. “Hoje é o dia de celebrar a vida deste amigo
irmão”, derramou-se, no último aniversário do alagoano.
Resolvida a novela do Turismo, Lula deve
abrir espaço para mais dois partidos: PP e Republicanos. As siglas já indicaram
seus candidatos a ministro. Resta saber as cadeiras que eles vão ocupar. As
negociações não têm passado pelos currículos ou pelas ideias dos escolhidos.
Trata de temas mais práticos, como o orçamento das pastas e a quantidade de
votos que cada legenda promete entregar.
O Republicanos tem três sonhos de consumo:
Esporte, Portos e Aeroportos e Ciência e Tecnologia. O PP desejava a Saúde, mas
aceita ficar com o Desenvolvimento Social. Como prêmio de consolação, também
exige a presidência da Caixa.
Lula prometeu governar com uma frente
ampla. Agora passa à fase da frente amplíssima, com a nomeação de
ex-bolsonaristas para cargos de primeiro escalão.
O presidente sabe que nenhum acordo com o
Centrão é definitivo. O bloco continuará à espera de uma crise para reajustar o
preço do apoio. Mas o adesismo da turma sempre conspira a favor de quem veste a
faixa presidencial.
Pois é!
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