Folha de S. Paulo
Presidente decidiu fechar acordo, mas
mantém desconfiança sobre disposição do bloco de entregar
Lula já
preparou uma cama para o centrão no governo, mas jura que vai se deitar com o
grupo a contragosto. Durante o relançamento
do PAC, há cerca de duas semanas, o petista recebeu Arthur Lira no
palanque e apontou que só negocia com o presidente da Câmara por obrigação.
"Ele é nosso adversário e vai continuar sendo adversário", disse.
O principal alvo da mensagem é o núcleo da base eleitoral de Lula, que vê Lira como rival e trata a aliança com o centrão como uma concessão amarga. O discurso também tem o objetivo de apresentar as conversas como um imperativo republicano e amenizar a repulsa de quem torce o nariz para negociatas políticas.
A qualificação de Lira como opositor
inconvertível também reflete uma percepção enraizada no Palácio do Planalto que
ajuda a explicar o ritmo
atravancado da reforma ministerial de Lula. O petista está decidido a fazer
o acordo com o centrão, mas o governo mantém uma desconfiança genuína em
relação ao bloco e ao presidente da Câmara.
Lula e seus ministros empurram a reforma
com a barriga porque ainda calculam o risco de comprar o apoio do centrão e não
levar para casa uma maioria consistente no plenário. Os deputados do grupo de
Lira podem votar a favor de itens de uma pauta consensual, mas não escondem
o jogo
duro que fazem com tópicos vinculados a uma agenda petista.
Para articuladores do governo, a entrega de
ministérios não fará com que o centrão passe a apoiar incondicionalmente
propostas como a
taxação dos mais ricos, a ampliação de espaços no Orçamento e, em especial,
projetos que bombem a popularidade de Lula sem que haja um benefício claro para
os deputados.
Segundo aliados do petista, o valor de face
do centrão pode ser maior do que o retorno que o grupo está disposto a
entregar. Nesse cenário, o presidente tateia os limites de um certo
endurecimento nas negociações da reforma: controla o tempo das trocas e
regateia para não entregar, de uma vez, todos os espaços reivindicados pelo
grupo de Lira.
Lula e Lira,uma dobradinha do barulho.
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