Valor Econômico
A leitura do livro “O Que Vi Dos
Presidentes - Fatos e Versões”, de Cristiana Lôbo e Diana Fernandes, é uma
viagem no tempo, em busca da história política contemporânea do país. Vai de
José Sarney, o afável, a Jair Bolsonaro, o conflituoso. São oito presidentes em
37 anos de democracia no Brasil, em que as autoras contam como o temperamento e
a personalidade de cada um moldaram os seus governos.
A cada um dos ex-presidentes, elas atribuem
um adjetivo. Fernando Collor de Mello é o impetuoso; Itamar Franco, o
mercurial; Fernando Henrique Cardoso, o sedutor; Luiz Inácio Lula da Silva, o
agregador; Dilma Rousseff, a autossuficiente; Michel Temer, o articulador.
Sarney chegou à Presidência porque era vice de Tancredo Neves, o escolhido pelas oposições para encerrar a ditadura militar. Um conterrâneo de afiado espírito crítico assim definiu o político maranhense: “Sarney tem um pé no mundo e outro no cangaço”.
Recém-filiado ao PMDB, vindo da antiga
Arena, depois PDS, partido que deu sustentação à ditadura, Sarney teve que usar
de toda a sua cordialidade para transitar em meio às lideranças do partido de
Ulysses Guimarães. “O clima era claramente de animosidade. Sarney estava
ansioso e inseguro e temia hostilidades”, contam as autoras.
Fernando Collor foi eleito pelo voto direto
em 1989 e assumiu a Presidência no dia 15 de março de 1990. No dia seguinte,
foi anunciado o Plano Collor - que confiscou a poupança pessoas físicas e
empresas -, que pretendia acabar com a superinflação com um ippon, um só golpe
com o qual se vence a luta no caratê. Mais uma vez o plano fracassou. “Sou a
modernidade. Em um ano a inflação estará em apenas 3% ao mês”, dizia ele. A
inflação encerrou 1990 em 1.476,56%.
Nessa altura, Pedro Collor tornara pública
a sua denúncia de que Collor bancava as suas despesas milionárias com recursos
que PC Farias achacava das empresas, e o processo de impeachment foi aprovado,
no dia 29 de setembro, na Câmara por 441 votos a 38.
Com o impeachment de Collor, Itamar Franco
assumiu a Presidência e, depois da troca de três ministros da Fazenda em sete
meses, nomeou Fernando Henrique Cardoso, que era chanceler, para o posto. Com a
inflação de 2.477%, “o caos na economia foi a marca do primeiro ano do mandato
de Itamar. Fernando Henrique montou o ministério e começou a trabalhar em um
novo plano de estabilização, o finalmente bem-sucedido Plano Real.
Com o sucesso do Plano Real, era claro que
FHC seria o candidato à sucessão de Itamar.
Entre as características marcantes do
temperamento de Fernando Henrique na Presidência destacavam-se a elegância,
sobriedade, sedução e vaidade. Imodéstia e senso de humor também eram parte de
suas características.
No dia 28 de janeiro de 1997, o plenário da
Câmara aprovou a PEC da reeleição. “Os jornais estamparam nas primeiras páginas
que o uso da máquina fora farto e abusivo”. Em 13 de maio a “Folha de S.Paulo”
publicou reportagem que atesta a compra de votos para aprovação da emenda da
reeleição. Passados exatos 20 dias dessa revelação, o Senado aprovou a
reeleição.
Luiz Inácio Lula da Silva venceu as
eleições de 2002 e tornou-se “uma espécie de pop star”. Por onde passava tinha
simpatizantes esperando para abraça-lo ou beijá-lo. “Um líder de massa
conciliador, agregador, que fez a ponte entre o povo e o empresariado”, dizem
as autoras.
Nos 580 dias de prisão devido ao “petrolão”
investigado pela Operação Lava-Jato, a vigília dos militantes, os amigos, a
família e uma nova paixão - Rosângela da Silva - pareciam alimentar a
persistente autoconfiança de Lula que repetia para quem quisesse ouvir que só
sairia da prisão inocentado”. A alforria veio em novembro de 2019, quando o
Supremo Tribunal Federal anulou suas condenações. Três anos depois, voltaria à
Presidência.
Dilma Rousseff foi escolhida por Lula para
sucedê-lo e a primeira crise não demorou. Antônio Palocci, homem forte do
governo, estava apenas há cinco meses na Casa Civil quando uma série de
reportagens da “Folha de S.Paulo” o derrubaria do cargo em menos de um mês,
acusado de tráfico de influência e enriquecimento ilícito.
Lula se reuniu com a bancada do PT e com
líderes aliados durante essa primeira crise e ouviu de líderes queixas sobre o
comportamento de Dilma: “Ela não conversa com ninguém, não se sabe o que ela
pensa. Faz tudo sozinha”. Lula levou essa queixa para um jantar com Dilma.
A política econômica do governo Dilma,
batizada de Nova Matriz Econômica, que vigorou entre 2011 e 2014 “é apontada
como a principal responsável pela crise aguda na economia em 2014”, mais que as
“pedaladas”, que acabaram levando ao impeachment.
Michel Temer assumiu a Presidência em
meados de 2016, tendo “Uma Ponte para o Futuro” como programa de governo do
PMDB. Ele conseguiu aprovação do teto do gasto no Congresso e deixou a reforma
da Previdência madura para ser aprovada durante o governo de Bolsonaro.
Poucos dias antes da eleição de 2018, FHC
tentou decifrar o fenômeno Bolsonaro. “Ele é a picareta da história.” Para FHC,
Bolsonaro iria quebrar o sistema político vigente. O que ficou dos quatro anos,
contudo, foi o “assombro de parcela significativa da sociedade brasileira com a
exposição, quase que diária, do explosivo temperamento do presidente, com a
democracia sendo alvo de ataques frequentes”.
Cristiana faleceu em novembro de 2021, antes de terminar o livro, que foi concluído por Diana, também jornalista especializada em política e muito amiga de Cristiana.
Em tempos desse lixo podre chamado pedrobial, que roubou o programa e matou o Jô de tristeza, que saudade da verve, brilhantismo, elegância e agudeza jornalística da Cristiana Lôbo, meu Deus...
ResponderExcluir(Ainda bem que nos resta a Renata Lo Prete, por enquanto)
Uma panorâmica do que foi o Brasil.
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