Folha de S. Paulo
Bolsonaro precisa provar que só ele não viu
os ilícitos registrados em palavras e imagens
A rotina de baixezas ilícitas, aliada à
ofensiva golpista reiterada verbalmente por Jair
Bolsonaro várias vezes e materializada por seus seguidores em 8 de
janeiro, caminha para mais dia, menos dia levá-lo à prisão. Ele mesmo
aventa em público tal desfecho na tentativa de se aplicar a vacina de vítima do
"sistema".
Pois o processo investigativo que atua para desvendar o conjunto da obra destrutiva erigida num governo que segundo avaliação da Polícia Federal abrigou uma "organização criminosa" fecha o cerco sobre o ex-presidente. Não como mártir, mas na figura do algoz.
Os investigadores não diriam ter certeza do
envolvimento dele no desvio de bens públicos se não tivessem elementos para
isso, mesmo antes da conclusão do inquérito das milícias digitais que vem de
revelar um esquema para "passar nos cobres" presentes valiosos
destinados ao Estado brasileiro.
Se o Supremo autorizar, ele vai de novo
depor na PF e terá seus sigilos bancário e fiscal quebrados, assim como os de
sua mulher, Michelle.
Daí para uma operação de busca e apreensão é um pulo nesse tipo de andar das
carruagens.
Já vimos em escândalos anteriores
envolvendo altos personagens da República como primeiro são mapeadas as
malfeitorias do entorno até a obtenção de fundamentos que impliquem o chefe.
No caso
PC Farias, no mensalão e
na descoberta da corrupção na
Petrobras, no entanto, houve mais complexidade para o desvendamento dos
crimes.
Agora o que vemos é um volume imenso de
provas produzidas pelos investigados, cujos comportamentos obtusos demonstram
que as aparências não enganam. São o que são. Do abuso de poder, das urdiduras
antidemocráticas ao badernaço golpista, passando pelas sabotagens e fraudes no
trato da pandemia, chegamos à rapinagem
de joias.
Tudo registrado em palavras e imagens que Jair Bolsonaro, para se livrar, precisa provar que só ele não viu.
O que é impossível.
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