Folha de S. Paulo
Lula e Lira se enfrentam cuidando para não
romper pacto de convivência e funcionalidade
Luiz Inácio
da Silva adiou, mas finalmente entrou no embate pela
sucessão de Arthur Lira na
presidência da Câmara dos
Deputados daqui a um ano e meio. Com o Orçamento de 2023 em
jogo, na transição precisou aceitar a reeleição de Lira a fim de não construir
um 7 a 1 na conturbada largada do governo.
Agora, diante de um cenário bem melhor, o
presidente atua na toada de experts que consideravam que ele havia se entregado
muito cedo e de maneira total ao controlador-geral dos deputados, reeleito com
inéditos 464 votos no início do ano.
Lira, obviamente, detectou o movimento, e Lula tem consciência de que o, digamos, adversário, percebeu. Portanto, não há desavisados nem ingênuos nesse jogo em que um é Tom e outro é Jerry, não necessariamente com papeis similares na corrida de gato e rato.
Lula e Lira querem coisas diferentes, mas
almejam um objetivo comum: a preservação dos respectivos poderes. Lato e
stricto sensu. Ambos têm ciência da força do outro e por isso necessitam agir
com cuidado sem dar a impressão de que estão fazendo o enfrentamento que
realmente estão.
Para Lula é importante atrair a oposição,
ainda que isso não se estenda até as disputas eleitorais. Para os
oposicionistas é essencial não transitar na "seca" daqui até 2026.
Sendo assim, o que vemos são movimentos para atender a interesses mútuos com
sinais trocados numa guerra que requer nervos de aço.
Ao menos em público, Lira os têm mais
firmes que Lula. O deputado manda os recados mais contundentes em tom macio que
requer leitura de entrelinhas. Já o mandatário se ocupa em reafirmar sua
autoridade de modo explícito.
Não será fácil o presidente minar a influência do deputado daqui até 2025. Entre outros motivos porque o atual acerto de governabilidade sustenta-se num pacto de boa convivência e eficaz funcionalidade entre Lula e Lira, cujo rompimento pode sair irremediavelmente caro ao Planalto.
Pode ser.
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