O Globo
Quando os governos se metem com
resolvedores de problemas, acabam criando encrencas muito maiores
Quando os governos se metem com
resolvedores de problemas, as tramas ganham muitos detalhes, mas na essência,
saem da mesma raiz e acabam criando encrencas muito maiores.
No filme Oppenheimer apareceu brevemente a
figura do coronel americano Boris Pash.
Ouvindo grampos do FBI, ele tentou afastar
Robert Oppenheimer do projeto da bomba atômica.
Filho de um padre russo, Pash havia combatido na guerra civil contra os bolcheviques. De volta aos Estados Unidos, casou-se com uma aristocrata e, durante a Segunda Guerra Mundial, entrou para o Exército. Em 1945, numa operação brilhante, ele participou da captura de toneladas de urânio bruto e material radioativo na Alemanha.
Com a Guerra Fria, Pash entrou nas
operações paramilitares do governo americano e acabou na Central Intelligence
Agency. Nos anos 1960, ele estava no planejamento de uma operação para
envenenar os charutos do cubano Fidel Castro.
Nessa armação, Pash tratou com outro
funcionário da CIA. Chamava-se Everette Howard Hunt.
No dia 22 de novembro de 1963, noutro braço
dessa trama, em Paris, a CIA entregaria a um cubano uma seringa para injetar
veneno em Fidel Castro. Quando chegou a notícia de que o presidente Kennedy
havia sido assassinado em Dallas, o esquema foi desativado.
Hunt, contudo, continuaria em ação. Em
1972, ele dirigiu a operação que colocaria um grampo na sede do partido
Democrata, no edifício Watergate, em Washington. Deu tudo errado, Hunt foi para
a cadeia e o presidente Richard Nixon acabou perdendo o mandato.
Neste ano completam-se 60 anos do
assassinato de John Kennedy e, mais uma vez, o crime será revisitado. Por mais
que se duvide, merece crédito a conclusão da comissão do presidente da Corte
Suprema, Earl Warren: aquilo foi coisa de Lee Oswald, e só dele.
Para quem gosta da dúvida, fica uma frase
de Lyndon Johnson, o vice que assumiu a presidência: “Kennedy estava tentando
pegar Castro, mas Castro pegou-o primeiro.”
Johnson disse isso a um jornalista anos
depois. Ele mentia muito, mas era o presidente dos Estados Unidos.
No Brasil, um governo que começou
assombrado pelas rachadinhas de Fabrício Queiroz, acabou metido num esquema de
grampos e falsificação de urnas eletrônicas com Walter Delgatti.
Queiroz, como se sabe, escondia-se na casa
do advogado Frederick Wassef que, por sua vez, resgatou um Rolex saudita
vendido a uma joalheria americana.
Mundo pequeno. No ano passado, Delgatti
tramava com a deputada Carla Zambelli, depois de ter ganho notoriedade
capturando comunicações dos promotores de Curitiba durante a Operação
Lava-Jato, do juiz Sergio Moro.
Em fevereiro de 2020, no apogeu do
bolsonarismo, o então ministro e hoje senador Sergio Moro dançou uma valsa com
a noiva no casamento da deputada Zambelli.
A turma brasileira é polivalente.
O tamanho de Bolsonaro
Quando o presidente Jair Bolsonaro
reuniu-se com Walter Delgatti no Palácio da Alvorada, mostrou o respeito que
tinha pelo cargo que ocupava.
Bolsonaro contribuiria para os costumes
reconhecendo que a operação de resgate das joias sauditas foi desencadeada por
seus subordinados com seu conhecimento. Chefe não joga subordinados às feras.
O silêncio de Barroso
Como presidente do Tribunal Superior
Eleitoral (TSE) até fevereiro de 2022, o ministro Luís Roberto Barroso comeu o
pão que Asmodeu amassou lidando com oficiais encarregados de verificar a
neutralidade das urnas eletrônicas. Conviveu com astúcias, negaças e mentiras.
A cada conversa, com a tarimba de advogado
e a cautela de magistrado, mostrou aos militares com quem conversava (de todas
as patentes) os riscos que as Forças Armadas corriam, como instituição,
metendo-se no negativismo bolsonarista. Ouvia, advertia e calava.
Deu no que deu e ele, calado, foi em
frente.
Haddad x Lira
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad,
meteu-se numa encrenca com o presidente da Câmara, Arthur Lira.
Numa entrevista ao jornalista Reinaldo
Azevedo, Haddad disse o seguinte:
“A gente saiu do presidencialismo de
coalizão e hoje vive uma coisa estranhíssima, que é um parlamentarismo sem
primeiro-ministro. (...) [A Câmara] está com um poder que eu nunca vi na minha
vida. Penso que tem que haver uma moderação.”
O presidencialismo brasileiro nunca mudou.
Não há parlamentarismo algum, e a Câmara continua no exercício das atribuições
que a Constituição lhe deu.
É comum que o governo se queixe dos poderes
do Legislativo e do Judiciário, mas assim é a vida.
Erro mesmo é acreditar que o governo e a
sociedade sejam encarnados por quem ganhou a eleição, quem teve voto.
Bolsonaro deixou seu vírus
Durante quatro anos Pindorama ralou com um
governo que negava o risco da pandemia e a eficácia da vacina, exaltava a
cloroquina e duvidava da neutralidade das urnas eletrônicas. Parecia ser coisa
do Bolsonaro.
Na quarta-feira , um apagão de energia
afetou 25 estados e Brasília. Em pouco tempo, entrou em operação uma usina de
fantasias. Culpava a privatização da Eletrobras, da energia eólica, ou, talvez,
de sabotadores.
A leviandade e a mentira revelaram-se
suprapartidárias.
O Trem-Bala é imortal
Em março passado reapareceu o projeto do
Trem-Bala capaz de ligar o Rio a São Paulo em apenas quatro horas.
O projeto estava sepultado há uma década,
depois de passar de boa ideia a maluquice e de maluquice a escândalo; o
Trem-Bala gerou uma estatal, que acabou sobrevivendo. Ele renasceu em março,
sob a forma de uma autorização para que a empresa TAV Brasil toque o projeto,
com uma ressalva: a Viúva não entrará nesse negócio. Tudo privado.
Passaram-se cinco meses. Não se sabe quem
está interessado no investimento e não se conhece o projeto. Mesmo assim, o
ministro dos Transportes, Renan Filho, já disse o seguinte:
“Se houver investidor privado (...) Nós
entendemos que é uma obra muito estruturante para o país e a gente pode
eventualmente apoiar. Vamos dizer que a obra custe R$ 50 bilhões. Não dê para o
empresário fazer R$ 50 bilhões, mas ele consegue fazer com R$ 40 bilhões.
Precisaria de R$ 10 bilhões do governo federal. Se chegar nesse momento, acho
que a gente pode discutir.”
Em cinco meses, sem que exista coisa
alguma, Renan Filho já aceita discutir um aporte de R$ 10 bilhões da bolsa da
Boa Senhora.
Eremildo, o idiota
Eremildo é um idiota, mas sabe fazer as
quatro operações.
A Polícia Militar de São Paulo barbarizou
durante uma operação no Guarujá, e morreram 16 pessoas. Em tese, numa operação
desse tipo, os policiais deveriam ter câmeras nos uniformes.
Dos 16 episódios que acabaram em mortes, a
PM disse inicialmente que só tinha vídeos de nove confrontos. Depois,
esclareceu que eles seriam sete e, por fim, enviou seis ao Ministério Público.
Delas, só três tinham relação com as ocorrências. Duas não captaram o momento
dos disparos e a outra não tinha informações relevantes.
Como dizia Danuza Leão, fica combinado assim.
O barulho de Barroso
ResponderExcluir"Nós derrotamos o bolsonarismo!"
Calado, Barroso parece mais eficiente que como ministro militante.
■Copiei este drops desta coluna do Elio Gaspari e colei aqui.
ResponderExcluir=> " Bolsonaro deixou seu vírus
Durante quatro anos Pindorama ralou com um governo que negava o risco da pandemia e a eficácia da vacina, exaltava a cloroquina e duvidava da neutralidade das urnas eletrônicas. Parecia ser coisa do Bolsonaro.
Na quarta-feira , um apagão de energia afetou 25 estados e Brasília. Em pouco tempo, entrou em operação uma usina de fantasias. Culpava a privatização da Eletrobras, da energia eólica, ou, talvez, de sabotadores.
A leviandade e a mentira revelaram-se suprapartidárias. " , escreveu o colunista Elio Gaspari.
Mas eu penso que a hipótese de o apagão recente ter sido sabotagem deve ser investigada, sim! Esta gente, de um lado e do outro, sempre tem gente enfiada onde não devia e um destes bem pode ter aprontado e provocado um apagão.
Veja-se, para ilustrar e a propósito de ela se dar ao direito de ser leviana em relação ao apagão, o caso da própria Janja::
▪Janja, durante anos, esteve enfiada lá na divisa do Paraná com o Paraguai, ocupando um emprego na empresa de energia Itaipú Binacional, escalada ali para fazer, quando e se fosse preciso, sabe-se lá o quê!
Ou alguém como Janja se exilou lá naquela grota só pelo salário do emprego arrumado pelo futuro marido e pago com o nosso dinheiro?
Barroso é ótimo,derrotar o bolsonarismo é preciso.
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