O Estado de S. Paulo
Quando as coisas complicam, a quem recorre a família Bolsonaro?
Frederick Wassef é um personagem e tanto.
Quando o bolsonarismo precisou tirar Fabrício Queiroz dos holofotes, em razão
da investigação do Ministério Público do Rio de Janeiro que apontou o
ex-assessor de Flávio Bolsonaro como operador do esquema de apropriação de
salários de assessores, o advogado da família hospedou Queiroz em Atibaia até o
momento da prisão do hóspede.
Quando o bolsonarismo precisou resgatar o Rolex recebido como presente oficial pelo então presidente Jair Bolsonaro e vendido nos Estados Unidos pelo pai de seu então ajudante de ordens Mauro Cid, o general Mauro César Lourena Cid, Wassef recuperou o relógio, “retornou com o bem ao Brasil” e o entregou em São Paulo a Mauro Cid, que “retornou para Brasília/DF na mesma data, entregando o bem para Osmar Crivelatti, assessor do ex-presidente”, de acordo com os indícios coletados pela Polícia Federal.
A nota de Wassef sobre as revelações da PF
é tão ensaboada quanto a sua atuação, na fronteira entre a defesa advocatícia e
a participação nos rolos da família Bolsonaro. Suspeito de ter recomprado um
objeto específico, ele negou uma venda genérica: "Nunca vendi nenhuma
joia”.
Em 2019, quando Dias Toffoli, a partir de
pedido de Wassef, suspendeu investigações baseadas em dados do Coaf, como
aquela sobre Flávio, e em dados da Receita, como as que miravam as esposas de
Toffoli e Gilmar Mendes, o advogado foi ouvido festejando sua articulação no
STF e comentando a felicidade da família do cliente, com frases como “tá o Brasil
inteiro me ligando e me chamando de deus!” e “o Flávio, o presidente, tudo
infartado, chorando”.
Se a família Bolsonaro, que ainda atuou
para blindar Toffoli contra a CPI da Lava Toga, contou com a boa vontade do
ministro, a diferença é que o inquérito das milícias digitais, no âmbito do
qual tramita o caso das joias, é relatado por Alexandre de Moraes, o algoz dos
bolsonaristas no STF.
Desde 1983, quando era tenente e “deu
mostras de imaturidade ao ser atraído por empreendimento de ‘garimpo de ouro’”,
como registrou a Diretoria de Cadastro e Avaliação do então ministério do
Exército, Bolsonaro sempre teve, enquanto finge demência, quem amenizasse,
varresse ou limpasse a sua sujeira, deixada pela “excessiva ambição em
realizar-se financeira e economicamente”.
Agora que o “deus” do bolsonarismo foi descoberto, a série “Better Call Wassef” talvez precise de um novo gerenciador de crises para o papel do titular..
Verdade.
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