Folha de S. Paulo
População vê com desconfiança uso de
sorteios no âmbito
Comentei,
no início da semana, proposta do psicólogo Adam Grant de
aprimorar a democracia trocando certas eleições por
sorteios. Sempre iluminador, o cientista político Cesar Zucco
Júnior, da FGV, me escreveu para observar que um dos empecilhos à
adoção de sorteios no âmbito de políticas públicas é que a população os vê com
desconfiança.
O próprio Zucco escreveu, em parceria com Natalia Bueno e Felipe Nunes, um artigo mostrando como beneficiários do programa Minha Casa, Minha Vida tendem a rejeitar o sorteio como critério para definir quem será contemplado com o imóvel subsidiado. Mesmo os vencedores dessa loteria acham que existiriam métodos melhores. Ele me enviou um pré-print (o trabalho ainda está em fase de revisão), que partilho aqui com os leitores.
Essa é mais uma daquelas instâncias em que
é grande o divórcio entre especialistas e senso comum. Para acadêmicos, não há
forma mais justa do que o sorteio para decidir entre dois ou mais candidatos
que disputem em igualdade de condições um bem escasso; para o público geral,
sempre seria possível melhorar, investigando mais as reais necessidades de cada
postulante, por exemplo.
Minha hipótese para explicar a diferença é
que o ser humano já vem de fábrica com verdadeiro horror ao acaso. Vários de
nossos vieses cognitivos, além das religiões, podem ser descritos como
rebeliões contra a incerteza. Não obstante, em análises mais objetivas,
verifica-se que o acaso tem papel determinante nas mais diversas atividades
humanas e na própria natureza. Flutuações quânticas aleatórias estariam na
origem de várias facetas do Universo.
Por que, então, apresentaríamos vieses tão
descolados da realidade? É que negar a importância da sorte tem valor
adaptativo, à medida que faz com que nos esforcemos mais e nos preparemos melhor
para contingências. Rejeitar a incerteza, embora piore nossas análises, melhora
nossas chances de sobrevivência.
O ''acaso'' não existe,o acaso é Deus,ou melhor,são as leis de Deus entrando em ação.
ResponderExcluir