O Estado de S. Paulo
Após um período como vilão do clima, o Brasil volta a buscar protagonismo
Um dos assuntos mais comentados da COP do
Egito, em novembro passado, foi a criação da “Opep das florestas”. Esse foi o
apelido dado às conversas entre Brasil, Congo e Indonésia, que abrigam 52% das
matas tropicais do planeta. Assim como os exportadores de petróleo, os três
países começaram um intercâmbio – no caso, para preservar aquilo que o Estadão
chamou, em editorial, de “tesouro verde”.
A Indonésia e o Congo são convidados especiais na Cúpula da Amazônia, que ocorre em Belém a partir da terça-feira, dia 8. O evento reunirá representantes dos países signatários do TCA, Tratado de Cooperação da Amazônia: Brasil, Colômbia, Peru, Equador, Bolívia, Suriname e Venezuela. Haverá espaço para propostas da sociedade civil, incluindo um documento multidisciplinar do movimento Uma Concertação pela Amazônia.
A colaboração entre esses países – os do
TCA e os da “Opep das florestas” – ainda é superficial. Nos anos 2000, a
Indonésia adotou alguns protocolos brasileiros de redução do desmatamento, na
época em que éramos referência na área. Após um período como vilão do clima, o
Brasil volta a buscar protagonismo: o desmatamento na Amazônia regrediu 7,4%
nos últimos 12 meses, de acordo com os números divulgados na quinta-feira.
Houve um tempo em que ter uma floresta era
encarado como um ônus. Isso mudou radicalmente na era da economia verde. Além
de essenciais para a vida no planeta, florestas podem gerar recursos para
diminuir as dificuldades sociais causadas pela transição para uma economia
sustentável, por meio do mecanismo dos créditos de carbono – daí o apelido
“tesouro verde”. Estima-se que esse mercado gere valores da ordem de US$ 50
bilhões até 2030.
O projeto que cria um mercado de carbono no
Brasil tramita no Congresso e pode ser aprovado ainda neste ano. Se isso
ocorrer, além de estabelecer tetos de emissões de carbono para alguns setores
da economia – como ocorre na Europa e em alguns Estados americanos –, o governo
poderá precificar a contribuição das matas preservadas e regiões de
reflorestamento.
“Na Califórnia, os créditos de carbono
criaram um mecanismo virtuoso que estimulou a inovação, com o surgimento de
várias tecnologias verdes”, diz Gustavo Pinheiro, coordenador do portfólio de
economia de baixo carbono no Instituto Clima e Sociedade. Ele é o entrevistado
do minipodcast da semana.
Num mundo pressionado pela mudança
climática, ter florestas é uma grande responsabilidade – mas é também um bônus,
uma oportunidade na economia verde que se desenha para o futuro. É este
espírito que deve animar os participantes da Cúpula da Amazônia.
*ESCRITOR, PESQUISADOR DO OBSERVATÓRIO DA
QUALIDADE DA DEMOCRACIA NA UNIVERSIDADE DE LISBOA E PROFESSOR DA FAAP
Curto e direto.
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