sexta-feira, 11 de agosto de 2023

Laura Karpuska* - ‘Poder e Progresso’

O Estado de S. Paulo

Livro desmantela narrativa de que mais tecnologia resulta em ganhos imediatos a todos

Nossa vida é hoje, certamente, melhor e mais confortável do que a dos nossos antepassados. Devemos isso, em grande medida, ao avanço tecnológico dos últimos séculos. Contudo, o aumento da tecnologia não foi por si só condição suficiente para isso.

O progresso tecnológico resultou em uma melhora da qualidade de vida das pessoas porque houve organização das classes subjugadas, que pressionaram as elites para compartilhar de maneira mais equitativa os benefícios dos avanços técnicos.

Em outras palavras, nem toda nova tecnologia resulta em avanço da qualidade de vida das pessoas. Isso acontece somente quando há distribuição dos frutos dessa tecnologia. Essa é a tese principal defendida por Daron Acemoglu e Simon Johnson no novo livro Power and Progress (Poder e Progresso, em tradução livre).

O livro é repleto de bons exemplos de avanços tecnológicos que resultaram em perdas significativas para determinados grupos sociais. Para compreender o ponto dos autores, é importante considerar o que eles entendem por progresso. Para eles, progresso é a prosperidade que é compartilhada. Ou seja, a “torta” aumentou e todos – ou, pelo menos, a maioria – estão desfrutando de uma fatia maior. Não é suficiente haver progresso no bem-estar de um grupo se isso implicar piora significativa no de outro.

O enfoque dos autores do livro é desconstruir a narrativa de que mais tecnologia implica progresso. Desse modo, eles acreditam que será possível fazermos melhores escolhas a respeito de que tecnologia promover e sobre como lidar com as mudanças tecnológicas. De outra forma: como podemos promover melhorias tecnológicas que complementem o trabalho humano?

Se a prosperidade aconteceu porque as elites dominantes foram pressionadas e tiveram de repartir mais os lucros, o que possibilitou o surgimento do poder dos trabalhadores? Penso que a democracia é a causa e a consequência desse fenômeno. Ampliando um pouco a narrativa dos autores, se os futuros avanços tecnológicos aumentarem a desigualdade, como alguns acreditam que já está acontecendo, a própria democracia poderá estar em risco.

Então, o que podemos fazer?

Além de dialogar e desmantelar a narrativa de que mais tecnologia automaticamente resulta em prosperidade para todos, precisamos entender por que permitimos que apenas empresas de alta tecnologia participem do debate político sobre a regulamentação das novas tecnologias. Quem mais deveria fazer parte desse debate? Eu acrescentaria que também desejamos debater o papel do Estado em fornecer reciclagem profissional e segurança para aqueles que serão afetados pelos avanços tecnológicos.

*PROFESSORA DO INSPER, PH.D. EM ECONOMIA PELA UNIVERSIDADE DE NOVA YORK EM STONY BROOK

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