Folha de S. Paulo
Em 2022, a violência tirou a vida de cerca
de 48 mil brasileiros
Entre o final de julho e o começo de
agosto, somaram 45 os mortos em operações policiais contra o tráfico de drogas
na Bahia, em São Paulo e no Rio de Janeiro. Do total, uma vítima era agente da
lei. A tragédia escancara a brutalidade em que estamos imersos.
Em 2019, segundo o Observatório Global da Organização Mundial da Saúde, só dez países tinham taxas de homicídio maiores do que o Brasil. Formávamos um time da pesada com países a que não costumamos nos comparar: África do Sul, Lesoto e oito vizinhos latino-americanos —El Salvador, Honduras, Colômbia e Venezuela, além de quatro nações caribenhas.
No ano passado, a violência tirou a vida de
cerca de 48 mil brasileiros. Em média, polícias foram responsáveis por 17
mortos a cada dia, informa o Anuário do Fórum Nacional de Segurança Pública. Como seria
de prever, a barbárie não se distribui igualmente pela federação. Amapá, Bahia,
Sergipe, Pará e Goiás lideram o rol de homicídios; somados ao Rio de Janeiro,
também o do uso abusivo da força policial. Tampouco a matança atinge todos na
mesma proporção: de ambos os lados do tiroteio, homens negros, jovens e pobres
correm risco sempre maior.
As estatísticas ajudam a perceber o tamanho
da catástrofe, mas não dão a medida do sofrimento das famílias atingidas, nem
do medo dos ameaçados mais de perto, nem do sentimento difuso de insegurança
dos que temem a violência letal, ainda quando é menor o risco de vir a
sofrê-la. Também não medem o impacto da violência sobre a vida política
democrática.
A direita há muito descobriu que a
exploração do medo —diariamente cevado pela mídia sensacionalista— e a defesa
da força bruta contra suspeitos rendem votos. A cada eleição cresce a
"bancada da bala" na Câmara dos Deputados, assim como o número de
eleitos saídos dos aparatos policiais nos estados. Para os paulistas, a defesa
brandida pelo governador Tarcísio de Freitas dos desmandos cometidos pela Operação
Escudo, em Guarujá, exuma os tempos de Paulo "bandido bom é bandido
morto" Maluf.
Bolsonaro e seus seguidores não fizeram
mais que entoar aos berros refrão bem conhecido.
Os democratas comprometidos com o social
têm o desafio —e o dever moral— de recorrer às experiências bem-sucedidas de
governos subnacionais e de organizações da sociedade, além dos confiáveis dados
disponíveis, para implantar formas civilizadas de garantir a segurança pública.
Nos 14 anos em que governou o país, a
centro-esquerda não se destacou por inovar nessa matéria. Tem agora nova
oportunidade de mostrar que não estamos condenados à barbárie.
*Professora titular aposentada de ciência
política da USP e pesquisadora do Cebrap.
Artigo muito precioso! Destaquei um veio especialmente caro do artigo::
ResponderExcluir▪" As estatísticas ajudam a perceber o tamanho da catástrofe, mas não dão a medida do sofrimento das famílias atingidas, nem do medo dos ameaçados mais de perto, nem do sentimento difuso de insegurança dos que temem a violência letal, ainda quando é menor o risco de vir a sofrê-la. Também não medem o impacto da violência sobre a vida política democrática. ".
Só observo à autora e a nós todos que não é "a direita" que faz uso da violência do Estado contra suspeitos para ter votos, como nós à esquerda costumamos carimbar, a despeito de os fatos não corroborarem com esse (e com outros) carimbo que usamos, mas sim políticos truculentos, abusados e oportunistas que tiram proveito do medo para conseguir votos e alimentar a carreira pessoal por poder.
ResponderExcluirO governo de esquerda é da Bahia.
ResponderExcluirO governo da Bahia é de esquerda - Isto que dá escrever sem concentrar,rs.
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